poeta, escritor, contista, jornalista, radialista, pesquisador e produtor cultural
quinta-feira, novembro 30, 2006
Eu sentia o barulho do mar,
mas não tinha mar ali
O brilho da lua refletia
sombras na parede,
mas não era noite de luar
Eu sentia teus lábios
percorrerem meu corpo
mas sabia que não era a tua boca
que me devorava
Eu sabia
que não tinha mar e nem luar
mas mesmo assim
me deixaria levar pela mão
até saciar minha sede
ou me afogar nos teus braços
porque a paixão
não pode ter meio termo
nem quando não passa
de mera fantasia.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
Em 30 de novembro de 1935, morria aos 47 anos de idade, devido a complicações hepáticas. Com a publicação de sua obra completa, após a morte viria a se transformar no maior poeta da língua portuguesa dos últimos tempos.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.”
FERNANDO PESSOA (1888 – 1935)
segunda-feira, novembro 20, 2006
paixão que leva
do nada a lugar algum
sonho que insiste
em fugir pela janela
antes da hora
aromas da infância
esquecidos na dobra do tempo
segredos
que os olhos da amada
escondem
feridas que se abrem
em noites de ausências
velas abertas
à espera de vento
para se lançar ao mar
desejo que resiste
sobre as cinzas da paixão
o que separa o poeta
do paraíso
é só um passo no escuro.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
o murmurar
das águas do rio
que corre ao longe
da minha infância
faz-se ouvir
na noite de saudades
do meu pai,
que se precipita em sombras
e silêncio
nada que não o correr
de águas mansas
que trazem lembranças
de trigais dançando ao vento
e da velha avó
resistindo ao peso dos anos
o murmurar
das águas do rio
da minha infância
atravessa a noite silenciosa,
remenda meus sonhos
de menino
e deságua no mar de saudades
que se forma nos meus olhos
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
quarta-feira, novembro 15, 2006

Arte: CHEMA MADOZ
Rubro Cálice
Ao acariciar suavemente meu corpo
O frio desperta o aroma entre lençóis
Visto-me, confusa, de tua Saudade
E, inquieta, a alma sedenta de sensações
Leva-me sua prisioneira varietal
São passos aflitos, corredores de cristais
Desces adega em minhas escadas...
Um sabor ao brinde de uma paixão:
Bebo do bouquet de teus lábios
Ousando degustar sonhos-cabernet,
Aveludado ainda é teu gosto
E é inebriando-me de lembranças
Que me encorpo aos braços teus
Entre beijos-sauvignon...
© Thyene Preissler Scherer
* Este belíssimo poema foi-me enviado pela amiga Marisa de Moraes, a quem agradeço o prestígio que empresta a este meu cantinho
sábado, novembro 11, 2006
quinta-feira, novembro 09, 2006
amordaçada dentro do peito.
é só para consumo interno.
dissolvo-a em doses cuidadosas
de emoções frustradas
e misturo-as a uma bebida amarga,
para que me seja difícil de tragar.
porque,
só embriagado de dor
é que descubro o quanto me custa
a minha insensatez
© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
segunda-feira, novembro 06, 2006

Concurso Nacional de Poesia
Tema: a cultura do vinho no cenário das civilizações
Regulamento no blog
http://arturgomes.zip.net
e na página:
http://www.almadepoeta.com/fulinaima.htm

As pitangueiras em frente ao SESC
Em frente à unidade do SESC, em homenagem ao Congresso Brasileiro de Poesia, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente plantou, em anos alternados, duas pitangueiras. Para nossa alegria, tanto a maior quanto a menor delas, certamente em homenagem ao maior de todos os congressos já realizados, estão neste novembro que mal iniciou, carregadas de frutos. Peguei minha câmera e fiz um registro para dividir com todos os poetas que já participaram de plantios de pitangueiras em Bento Gonçalves, para que mesmo virtualmente, sintam o sabor das pitangas que embelezam nossos olhos.