sexta-feira, outubro 23, 2015



Um gaúcho na corte do rei
 ® Ademir Antonio Bacca

Pelé marcou o seu gol número 1090 depois de uma tabelinha que fez a torcida do Santos pensar que o rei do futebol tinha reencontrado seu companheiro Coutinho. Era o segundo gol do time santista contra o Boca Juniors, da Argentina, que a torcida venezuelana, mais de trinta mil pessoas nas arquibancadas, assistia em Caracas.

Só que tabelando ao lado de Pelé não estava o lendário camisa nove santista Coutinho e sim Lairton, centro-avante do Clube Esportivo Bento Gonçalves emprestado ao Santos. O mesmo Lairton que poucos meses antes havia marcado quatro dos cinco gols que o time de Enio Andrade aplicara no Grêmio de Oto Glória.

Contratado por empréstimo pelo Santos, Lairton apresentou-se na Vila Belmiro quando o time santista excursionava pelos Estados Unidos. Seu primeiro contato com Pelé & Cia., sem nenhum treino, foi naquele dia 25 de agosto de 1971, em Caracas.

No segundo tempo, Pelé retribuiria o passe e Lairton marcaria seu primeiro gol com a camisa do peixe.

Mas durou pouco o sonho do gaúcho de Santa Cruz na corte do rei. Ao fim do empréstimo, o Santos considerou muito alto o preço pedido pela diretoria do Esportivo pelo passe do atacante, que no ano seguinte defenderia o Grêmio e depois abandonaria o futebol para gerenciar um hotel em Santa Cruz do Sul.

* Do livro em preparo "Janelas da Memória"

quarta-feira, julho 08, 2015


E POR FALAR NO "BEATLES DAY"...

Fazendo algumas anotações para o papo que eu e Claudio Troian temos agendado para a tarde da próxima sexta-feira no Instituto Federal, sobre o sacode que os Beatles deram na nossa geração aqui em Bento e na região, me deparo com aquela situação comum que muitas vezes acontece a qualquer um de nós, o tal do questionamento "...E SE?" 
Sim, se eu tivesse ido, se eu tivesse dito sim (ou não), se eu tivesse apostado... e por aí vai. 
No caso deste momento, nesta tarde fria e chuvosa, duas são as questões, ambas ligadas aos Beatles: 
1 - E se Stuart Sutcliffe, o Stu, ao invés de escolher o amor de Astrid Kirchherr e abandonado os Beatles em Hamburgo tivesse permanecido na banda? ... 
2 - E se Pete Best não tivesse sido substituído por Ringo Starr? 
Stu não viveu o suficiente para ver o sucesso dos seus amigos e morreu um dia antes do retorno dos Beatles a Hamburgo. 
Pete Best carrega até hoje a mágoa de ter sido excluído da banda por seus amigos. Muitos se referem a ele como 'o quinto beatle', outros dizem que o quinto seria "Briam Epstein", mas para Lennon o quinto beatle sempre foi "Stu", por quem muitos biógrafos garantem que ele nutria uma paixão platônica.

quinta-feira, junho 25, 2015


O RIO GRANDE PERDE UM DOS SEUS MAIORES TALENTOS

Morreu em Porto Alegre, na noite desta quarta-feira, o tradicionalista, pesquisador, compositor e radialista ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES, ou apenas Nico, como ele preferia ser chamado, autor, entre outras, de "Canto Alegretense", uma das músicas mais gravadas no sul do país.
Nascido na localidade de Inhanduí, no interior de Alegrete, em 1934, tornou-se uma das figuras de maior referência do tradicionalismo gaúcho e era reconhecido como uma das maiores autoridades em folclore do Rio Grande do Sul.
Tive o prazer de desfrutar da sua amizade e de conviver com ele em diversas oportunidades especiais. Numa delas, involuntariamente fui o causador da sua reaproximação com o poeta Mario Quintana, seu conterrâneo, com quem ele estava rompido havia muitos anos. O motivo da desavença havia sido uma declaração infeliz do poeta de que aqueles que nasciam em Alegrete ou "eram fazendeiros ou eram bois". Nico ficou injuriado e dizia as quatro ventos que era do Alegrete e não era nem fazendeiro e nem boi. Indignado, havia riscado o nome de Quintana da sua lista de amigos.
Em 1988, estávamos prestes a inaugurar a Biblioteca de Serafina Corrêa e havíamos decidido batizá-la com o nome do grande poeta. Agendei um encontro com ele e - sem imaginar que eles estivessem rompidos - convidei o Nico para nos acompanhar. 

A princípio ele recusou:
- Tô de mal com aquele velho!
Meia hora depois me ligou dizendo que iria:
- Ele já está passado nos anos e não quero que ele morra sem fazer as pazes com ele.
E então fomos: eu, ele e a sua namorada na época, Guiga, com quem ele viria a casar poucos meses depois, mais Jonalda Fornari, então Secretária de Educação de Serafina Correa e o poeta Rossyr Berny.
Foi bonito ver o abraço de reconciliação que Nico e Quintana trocaram naquela manhã fria de inverno em Porto Alegre, numa manhã que me foge a data, mas com certeza o mês era junho de 1988. Abaixo o flagrante do momento em que Mario Quintana lia o decreto que dava o seu nome à Biblioteca Municipal da cidade onde nasci.

sexta-feira, maio 29, 2015




VIDA E MORTE

© SÉRGIO NAPP
1939 – 2015

Então isto é a vida: esta faixa rajada de vermelho que encerra o dia? Este resto de arco-íris depois da chuva mansa? A aragem embalando as folhas que se desprendem das árvores nas calmas manhãs de sol? E o homem a que responde a tudo isto? Deixa-se em contemplação? Mede-se o seu espanto pela alegria ou pelo medo? O que é o medo? Algo que não se pode medir? Um ponto escuro em que os olhos se fecham para que nada se veja? A morte?

Ah, a morte, em que momento ela se confronta com a vida? Em que momento elas disputam a primazia sobre o corpo à sua frente? Serão inimigas? A vida é mais harmoniosa, embora, sem dúvida, a morte seja a mais forte. O homem se assusta com a morte e tenta, de todas as formas, lhe escapar. A morte o cerca de forma inexorável. A morte possui toda a paciência do mundo. Com a paciência, que só ela possui, o espreita, enquanto apara as unhas e corrige as cutículas.

Pesquisas demonstram que se escrevermos sobre nossas aflições e nossa possibilidade de morrer, a vida tem uma chance. Pequena, claro, mas enfim.

E sobre o que deveremos escrever? Experiências, dores, medos, ambiguidades? Depende de cada um. De como sentimos a proximidade desta senhora. Você tem um câncer? Escreva. Tem uma cardiopatia grave? Escreva. Dizem que o fato de escrever sobre ou não, diminui as possibilidades. Em tese, ela não me assusta, pois o caminho é inexorável. Entretanto, as circunstâncias nos fazem refletir. A vida sempre estará por perto nos dando uma esperança. A morte, não. Não há esperanças na morte.

Neste momento ela é meu tema (talvez porque eu a adivinhe?), enquanto amanhã, quem sabe, considere este tema uma grande bobagem. Quem sabe, seja uma radiosa manhã de sol e eu saia para um passeio de bicicleta. Quem sabe, logo adiante, ela se ponha à minha frente?

Estamos sempre entre uma e outra, queiramos ou não.

Morrer de repente é o prazer do homem, viver é seu objetivo.

A morte anda, a morte é.

E a vida?

O que cada uma nos reserva não sabemos e, se soubéssemos, o sentido entre elas perderia importância.

segunda-feira, abril 13, 2015



Morre o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, aos 74 anos

Autor de 'As veias abertas da América Latina' estava internado por complicações decorrentes de um câncer de pulmão

 
 by Andres Stapff  / Reuters

 

Morreu na manhã desta segunda-feira, aos 74 anos, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, em Montevidéu. Ele teve complicações decorrentes de um câncer de pulmão, diagnosticado em 2007, e estava internado no Centro de Assistência do Sindicato Médico do Uruguai desde sexta-feira.
Galeano escreveu mais de 50 livros (traduzidos para cerca de 20 idiomas), entre documentários, ficções e obras jornalísticas, e tinha o futebol, as mulheres, a cultura e o continente latino-americano como principais temas de interesse. Sua obra mais famosa foi "As veias abertas da América Latina", que, desde sua publicação, em 1971, se converteu em um clássico da literatura política do continente. Entre os livros notáveis do uruguaio, está também a trilogia "Memória do fogo".
"A utopia serve para caminhar. Um sentido 'até sempre' para quem foi um mestre de várias gerações", publicou, no Twitter, o senador e ex-chanceler do Uruguai Luis Almagro. "A morte de Eduardo Galeano impacta e dói. Ninguém pode preparar uma descrição tão poética do futebol quanto ele", comentou o jornalista esportivo uruguaio Martin Charquero.
A ex-senadora colombiana Piedad Córdoba Ruiz destacou o lado político do escritor: "Os pobres do mundo perdem um de seus grandes defensores. Descanse em paz, mestre Eduardo Galeano, e aqui seguiremos sua luta. #Tristeza", postou.
Nascido no dia 3 de setembro de 1940, aos 14 anos já vendia caricaturas para jornais de Montevidéu. Nos anos 1960, como jornalista, trabalhou no semanário "Marcha" e no diário "Época". Porém, antes de se tornar um jornalista e líder intelectual da esquerda, Galeano trabalhou como operário de fábrica, desenhista, pintor, office boy, datilógrafo, caixa de banco, entre outras ocupações.
Por conta do golpe militar uruguaio, Galeano deixou o país em 1973 e passou a morar na Argentina, onde fundou uma revista cultural chamada "Crisis". Quando voltou ao Uruguai, treze anos depois, criou o semanário "Brecha".
"Se foi Eduardo Galeano, fundador e referência do nosso semanário, integrante do Conselho Consultivo e colaborador assíduo de suas páginas", publicou o perfil do "Brecha" no Twitter.
Nos últimos meses, se dedicava a editar um novo livro chamado "Mujeres", que será lançado na quinta-feira, na Espanha. Trata-se de uma seleção de contos e relatos de Galeano dedicados a personagens femininos, sejam elas anônimas ou mundialmente famosas (como Sherazade e Marilyn Monroe). A capa é ilustrada por quatro esculturas artesanais feitas em Olinda e escolhidas por Galeano, que também supervisionou a edição dos textos.
"A única maneira para que a história não se repita é mantendo ela viva", escreveu certa vez o uruguaio. Depois do exílio, se não estava viajando, era fácil encontrar Galeano vagandos pelas ruas de Montevidéu ou sentado ao redor de uma das mesas do Café Brasileiro, na Cidade Velha, onde ordenava suas ideias ou participava de conversas com amigos e estranhos.
Em 2009, durante a Cúpula das Américas, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com um exemplar do livro de Galeano (censurado pelas ditaduras do Uruguai, Argentina e Chile). Por conta da ocasião, em um dia, o livro pulou da 60.280ª para a décima posição na lista dos mais vendidos da Amazon.
Questionado sobre o episódio, Galeano respondeu que "nem Obama e nem Chávez entenderiam o texto. Ele (Chávez) entregou a Obama com as melhores intenções, mas lhe deu um livro em um idioma que Obama não conhece. Então, foi um gesto generoso, mas um pouco cruel".

AUTOR DIZIA QUE 'VEIAS ABERTAS' FICARA NO PASSADO

Galeano lançou "As veias abertas da América Latina" aos 31 anos e reconheceu posteriormente que ainda não tinha formação suficente para finalizar a tarefa naquela época.
Uma prova disso é que, durante entrevista coletiva em Brasília, em 2014, quando foi homenageado pela 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, o autor surpreendeu a todos ao manifestar publicamente algumas reservas em relação à sua obra. "Eu não seria capaz de ler de novo esse livro, cairia desmaiado", declarou, para espanto geral dos jornalistas presentes.
Segundo registrou a jornalista Cynara Menezes em seu blog "Socialista Morena", o uruguaio não poupou críticas ao conteúdo de "Veias abertas", quatro décadas depois da sua primeira edição: "Depois de tantos anos, não me sinto tão ligado a esse livro como quando o escrevi. O tempo passou, comecei a tentar outras coisas, a me aproximar mais à realidade humana em geral e em especial à economia política — porque 'As veias abertas' tentou ser um livro de economia política, só que eu ainda não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas é uma etapa superada", complementou o autor, classificando a prosa de esquerda tradicional de "chatíssima".