poeta, escritor, contista, jornalista, radialista, pesquisador e produtor cultural
sábado, outubro 25, 2008
se eu pudesse moldar as manhãs
com minhas mãos de poeta
talvez elas tivessem as mesmas cores
mas certamente seriam diferentes
tiraria delas a pressa do ponteiro das horas
e também o cinza dos olhos
daqueles que enfrentam as ruas
se eu pudesse amassar com minhas mãos
o barro das manhãs
eu o moldaria ao meu jeito
certamente elas teriam os mesmos rostos,]
seríamos os mesmos a dividir o mesmo espaço
mas elas seriam diferentes
desarmaria espíritos
eliminaria labirintos
substituiria muros por pontes
e ensinaria a celebrar a vida
mesmo que ela amanheça todos os dias
pendurada por um mísero fio
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O grito por dentro das palavras”
com minhas mãos de poeta
talvez elas tivessem as mesmas cores
mas certamente seriam diferentes
tiraria delas a pressa do ponteiro das horas
e também o cinza dos olhos
daqueles que enfrentam as ruas
se eu pudesse amassar com minhas mãos
o barro das manhãs
eu o moldaria ao meu jeito
certamente elas teriam os mesmos rostos,]
seríamos os mesmos a dividir o mesmo espaço
mas elas seriam diferentes
desarmaria espíritos
eliminaria labirintos
substituiria muros por pontes
e ensinaria a celebrar a vida
mesmo que ela amanheça todos os dias
pendurada por um mísero fio
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O grito por dentro das palavras”
Fragilidade
Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
in “A rosa do Povo”
Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
in “A rosa do Povo”
do que fazer
Reinventar a vida
sempre que necessário
rever a infância
com os olhos do menino
que nunca encontrou a saída
de dentro de ti
reinventar o tempo
sempre que o relógio
parecer andar depressa demais
rever o verbo
toda vez que a palavra
não consola
ter sempre o sonho
na medida exata da pretensão
porque o poema sabe
da urgência da hora.
© Ademir Antonio Bacca
Reinventar a vida
sempre que necessário
rever a infância
com os olhos do menino
que nunca encontrou a saída
de dentro de ti
reinventar o tempo
sempre que o relógio
parecer andar depressa demais
rever o verbo
toda vez que a palavra
não consola
ter sempre o sonho
na medida exata da pretensão
porque o poema sabe
da urgência da hora.
© Ademir Antonio Bacca
sei que nada sei
sei que de paixão
pouco ou nada sei
mas faço de conta
que sei de tudo
dou palpites e me meto
onde não sou chamado
troco os pés pelas mãos
e quebro sempre a cara
porque isso de amar
é um novelo confuso
que a gente vai se enrolando
do jeito que dá.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
sei que de paixão
pouco ou nada sei
mas faço de conta
que sei de tudo
dou palpites e me meto
onde não sou chamado
troco os pés pelas mãos
e quebro sempre a cara
porque isso de amar
é um novelo confuso
que a gente vai se enrolando
do jeito que dá.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
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