sábado, março 13, 2010

Arte: "Masque Rouge" © Juan Alberto
lições do arame

equilibrar a paixão
no fio de arame
me ensinou os atalhos
da vida
passo
a
passo

descobri
que a emoção
não se equilibra
com a voz do coração

do alto do arame
a vida ensina
que o que mais importa
não é o amor
e sim,
não errar o passo

© Ademir Antonio Bacca – do livro “Grito por dentro das palavras”
se é só a tua lembrança
que me visita
nas madrugadas insones
então, por que
o sabor dos teus lábios
na minha boca
todo amanhecer?


© Ademir Antonio Bacca – do livro “Grito por dentro das palavras”

das coisas em que acredito

até aonde meus olhos
alcançam
eu acredito em tudo
aquilo que eu vejo

dali em diante
acredito em tudo
aquilo que imagino


© Ademir Antonio Bacca – do livro “Grito por dentro das palavras”
Arte: “Crianças no futuro” © Sevket Yalaz
as pedras da memória – canto um

Para o Badoga

percorro o mapa da cidade
com a pressa daqueles
que desvendam
o corpo da mulher amada
pela primeira vez

busco velhas lembranças
que num tempo qualquer
deixei para trás
quando saí em busca
do tesouro escondido
atrás do teu olhar

percorro os labirintos da memória
com a angústia daqueles
que sabem que os ponteiros das horas
não andam para trás

onde a velha casa
que abrigou nossos sonhos?
onde a batida na bigorna
que orientava nossos passos?

percorro o mapa da cidade
com a dor daqueles
que descobrem que a cidade
nunca mais cantará
a nossa canção

© Ademir Antonio Bacca – do livro “O Relógio de Alice”

as pedras da memória – canto 2

Para Jayme Cimenti

te recordas, amigo,
desta rua
que agora corre
com mais pressa
do que corria
nos nossos verdes anos?

quantos sonhos lapidamos
em cada esquina
da velha cidade
que não existe mais?

tanto tempo que se foi,
tantos de nós que não voltaram
e nem por isso
nos deixamos embrutecer!

ainda recordo, amigo,
da vida que corria
por esta rua
e um dia começou, aos poucos,
a nos escapulir

de cada sonho
que amanheceu fora de hora
guardo o gosto de sal;
de cada abraço de despedida,
o amargo de nunca mais

te recordas, amigo,
dos amigos que se perderam
no fim desta rua?

quantos ainda saberão
que os vestígios da nossa infância
continuam gravados
na memória das pedras
da velha cidade
que ainda resistem
aos novos tempos?

têm pressa as ruas
da nova cidade, amigo

correm ao encontro
do tempo que virá,
mas sabem que nas suas pedras
estarão cimentados para sempre
os nossos sonhos de meninos.


© Ademir Antonio Bacca – do livro “O Relógio de Alice”

as pedras da memória – canto 3

Para Leila Pasquetti

não é tristeza
que traça o mapa
da velha cidade
que ainda se desenha
dentro de mim.

só saudade do que ela
foi um dia

© Ademir Antonio Bacca – do livro “O Relógio de Alice”