terça-feira, junho 27, 2006


"FALA ZÉ"

Na semana passada, em companhia do Schenatto e do Possamai (do SESC Bento Gonçalves, parceiros de organização do Congresso Brasileiro de Poesia), fui a Farroupilha assistir ao espetáculo "Fala Zé", apresentado pelo ator José de Abreu. Trata-se de de algo imperdível, seja pela qualidade do texto ou pela excelente interpretação deste grande nome do teatro e da televisão.
Depois do espetáculo fomos jantar com o ator, onde conversamos algumas garrafas do bom vinho da serra gaúcha e descobri que além de excelente ator, o José de Abreu é um figuraço. Portanto, se algum dia o acaso o colocar diante de um teatro que estiver levando o "Fala Zé", não pense duas vezes, deixe de lado o que estava por fazer e entre. Garanto que você não vai se arrepender.
da boemia

voltamos do bar
quietos e cansados
como se fossemos
pássaros inexperientes
que voltam aos seus ninhos
assustados
com o primeiro temporal

© Ademir Antonio Bacca
do livro “A Tragédia dos Anjos”
POEMAS QUE GOSTO (24)
LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CERQUEIRA é um poeta carioca radicado em Brasília, cujos versos conheci apenas no ano passado, quando ele esteve em Bento Gonçalves pela primeira vez participar do Congresso Brasileiro de Poesia. Dentre tantos, há um poema dele que qualquer poeta que se preze gostaria de ter escrito, que eu reparto com vocês:
Poema OP. 79, Nº 15

Pela manhã, bem cedo, pela manhã
queria abrir a janela do meu dia
e beber um copo de sol nascente.

Pela tarde, bem pela tardinha,
queria fechar a porta do meu dia
e curtir o crepúsculo da sua ausência.

E, quando fizesse noite alta, noite sem lua,
queria descer o cortinado dos meus sonhos
e beijar o seu abraço, morder o seu destino,
buscando-a na saudade da sua presença,
bebendo um copo do seu sorriso.
© LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CERQUEIRA
eu venho assim pela noite,
paixão incontida aflorando o peito,
água represada que não se contém,
explode
e arrasta as emoções incautas
que encontra pelo caminho.

eu venho assim meio sem jeito
pelas ruas,
vadio no meu pensar,
abandonando lembranças pelas esquinas,
sem pressa nenhuma de chegar
e não te encontrar.

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”

Eros 0091 by adebach/2005
Técnica: Arte Digital - Programa utilizado: Corel Photo-Paint 10
Este trabalho faz parte de uma série erótica que pretendo apresentar em minha próxima exposição individual, a princípio programada para o mês de outubro
de herança
o tempo me deixou
apenas a saudade
que acalento
com versos desajeitados
em noites de invernia

o vento
que balança as janelas
traz palavras
esquecidas nos anos
que reanimam
o fogo da paixão
que eu julgara
ter ele levado
para outros recantos

de herança sobrou-me
a tua lembrança
que se faz água do mar
e sempre volta para mim.


© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”

quinta-feira, junho 22, 2006

Solidão by adebach
Técnica: Arte Digital - Programas utilizados: Apophisys e Corel Photto-Paint 10
das tentações

o que
meus dedos
não tocam

os meus olhos
sentem.

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Inventário de Emoções”
não sei dizer
das tantas mortes
que tive

tantos os sonhos
que se foram,
tantos os rostos
que passaram
e não voltaram
que já nem sei
quantas vezes morri
neste tempo todo
que vivi.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

Faço de volta
os caminhos da paixão
certo de que o recomeço
é o remédio que cura
minhas dores.

Percorro a estrada do desejo
em busca dos sonhos
que deixei para trás.

Travessia de mim
para aquietar o corpo doído
de tantas paixões insensatas...

© Ademir Antonio Bacca

sábado, junho 17, 2006


E AGORA, JOSÉ?
No flagrante acima, a prova de que os poetas têm que dar explicações das suas palavras até depois de mortos. Ou não estará um dos tantos 'josés' que Drummond alertou em vida, cobrando-lhe uma explicação?
O TRAÇO DE ERTHAL
Erthal é um grande caricaturista brasileiro, dono de um traço perfeito, como vocês podem perceber na belíssima caricatura que fez de Sebastião Prata, o imortal GRANDE OTELO, um dos maiores nomes do cinema brasileiro de todos os tempos.
do aconchego

descanso
a insensatez
dos meus passos
na calma doçura
dos teus braços

sossego
a loucura
dos meus atos
na doce preguiça
dos teus gestos.

® Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”


DE POETAS & JABUTICABAS

Toda vez que vejo jabuticabas numa gôndola de quitanda, ou mesmo fotos de uma jabuticabeira, imediatamente lembro do poeta ALDAIR DA SILVEIRA AIRES, uma das mais fortes vozes da poesia contemporânea goiana. Lembro do quintal da sua casa em Silvânia, onde só estive em pensamentos, mas de cujos frutos conheço o sabor, e também de nossas andanças por mesas de bares em Goiânia num tempo qualquer que não me sai da lembrança, onde não apenas conheci a amabilidade do poeta, mas principalmente a profundidade da sua poesia. Poesia que mais uma vez reparto com todos aqueles que me dão o privilégio de visitar este meu cantinho literário.


O GRANDE ÓPIO

® ALDAIR DA SILVEIRA AIRES

Na busca do
ópio descobri a
orla da poesia,
e ando a gerundiar
versos no reverso.

E meu mini universo
vence a serra azul
e relança no espaço
azul girangirando
o mergulho nas águas
não cantadas
por aquele que
clama no deserto.

No entanto
meu canto é,
pobre canto,
o que não ateia fogo
à linguagem,
o que não macaqueia a palavra,
o que não tem gerúndios
nem infinitos,
o que só professa a dor
de nunca ter sido mestre
em nada.

sábado, junho 03, 2006


PINO

Pino é um caricaturista argentino que descobri há pouco em minhas andanças pela internet e que veio aumentar minha coleção de caricaturas. Dono de um traço perfeito, esta caricatura do Mick Jagger dispensa qualquer comentário em relação ao talento do autor.
armistício

nenhum gesto
que não acariciar teu rosto

há em mim
intenções de sossego

nenhum movimento
que não desnudar teu corpo

há em mim
intenções de paz
apesar da palavra
engatilhada

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”
catapora

nariz grudado no vidro
e a vida passando
lá fora

(lembrando a catapora do Théo)

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”

sexta-feira, junho 02, 2006

na solidão
da tua ausência
descubro
que a minha aquarela
é pouco
para te pintar
do jeito
que eu te vejo

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
é preciso
apaziguar
o medo
que nos inquieta

a paixão
não é só
mar revolto
em noite
de temporal

é também
porto de chegada,
braços abertos
para as nossas
inquietações

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
ONZE DE SETEMBRO IV © adebach
Técnica: Fractal - Programa utilizado: Apophysis
paredes

quatro as paredes
que me separam
dos meus anseios

quatro as paredes
que te separam
dos meus medos

quatro
as malditas paredes
entre o nosso desejo

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”