quarta-feira, maio 16, 2007


A POESIA BRASILEIRA PERDE ALDAIR AIRES

Uma das mais fortes vozes da poesia goiana calou-se na manhã de ontem, dia 15, em um hospital de Goiânia. Aldair Aires era um dos poetas goianos contemporâneos mais premiados nos últimos anos e um ser humano de múltiplas virtudes.
Tive o prazer de conviver com ele momentos inesquecíveis de poesia, de boemia e de conversas jogadas fora, seja em Goiânia ou aqui em Bento Gonçalves, em suas duas vindas ao Congresso Brasileiro de Poesia.
Quando esteve aqui em casa, trouxe-me não apenas jabuticabas colhidas no quintal de sua casa em Silvânia, como também uma garrafa do finíssimo licor que fazia e também uma garrafa de pinga goiana lindamente trabalhada e com poeminhas meus impressos no rótulo.
Aldair tinha uma consideração pela minha poesia que muitas vezes me deixava constrangido. Via em meus versos qualidades que por vezes eu achava que beiravam o exagero.
Escreveu críticas sobre meus livros “Pandorgas ao Vento” e “Plano de Vôo” e estava escrevendo o prefácio de “O Relógio de Alice” que não sei se chegou a concluir.
Sei sim da sua alegria com meus versos de quando recebeu o original do livro e meu pedido para que o prefaciasse. Em e-mail emocionado falou-me do quanto gostara do livro e pela primeira vez anunciou sua luta contra o câncer. Mas estava otimista e até brindou-me com um poema sobre o momento da chegada do meu original, que divido com vocês e faz parte desde já dos meus tesouros mais caros.
Foi-se o poeta, mas fica a sua poesia a imortalizá-lo nas letras goianas. Foi-se o amigo, mas ficam momentos belíssimos para aquecer as noites de saudade que virão.

O CORREIO E SUAS ASAS.

© ALDAIR AIRES

Nada de nada
Num corpo sonolento
De espantos e tédios.

Nada de nada
Numa cabeça entorpecida
Ainda pelos sons da máquina
metralhando raios em suas carnes,
em busca do que se esconde
no provável incerto
do que se teme.

De repente, o carteiro.
E seu sorriso e suas mãos
E uma caixa lacrada.
De Quê? De Quês?
O conteúdo no encoberto
De que seria? O que seria?
E interrogações ganharam asas
Giravam e giravam e giravam
Cirandas em torno e dentro
Da cabeça encharcada de abismos.

Um rasgo no invólucro
E um jorro cachoeirou de poesia
Corpo e alma e tudo, num desvario
Orgástico de vida.

Bacca abarcou a tarde morna
e fez ressurgir, nos nadas de então,
uma tênue e doce esperança
com a força de seus versos
e o Relógio de Alice estribilhou:
é hora de sentir a beleza da vida,
é hora de viver a grandeza da vida,
é hora de amar a poesia da vida.

22 comentários:

Anônimo disse...

É hora de um coração mais apertado
e um paraíso mais feliz!

Aires vai realmente deixar muitas saudades!

Joaquim Branco disse...

Meu caro Ademir,

parabéns pelo blog. Também estou na blogosfera. Muito justa a homenagem ao poeta que morreu. Li e gostei dos seus poemas. Agora poderá poetar mais à vontade.

Anônimo disse...

No belíssimo poema-homenagem, percebo o grau da perda e deixo meus sinceros sentimentos.

Marisa

Anônimo disse...

Triste esta notícia. No entanto em minha memória, fica a lembrança do amigo alegre, do poeta de mão cheia, das conversas no bar da esquina e no saguão do hotel, além de uma bela escultura e muitos poemas. Fica sim, a certeza de que a partir de agora ele espalhará sua poesia no paraíso.

Andréa

Anônimo disse...

Amigo, quando estive em Bento e fui presenteada com o volume 3 Poesia do Brasil, gostei especialmente desses versos do Aldair:

A MORTE DO DIA

(...)Eles não sabiam
do caso do poeta
e de seu silêncio
súbito na tarde.
Nem os jornais
Deram importância
Ao fato do poeta
Morto pela poesia.

Parte o Aldair, fica o poeta.

Anônimo disse...

Fiquei comovida com suas palavras sobre o Aires.
Ele com certeza vai deixar saudades e uma lacuna a ser preenchida com poemas.
Abs
Eunice

Anônimo disse...

Me sensibilizou as suas palavras, me sensibilizou a poesia do Aires. Isso é coisa pra se guardar com muito carinho, realmente! Meu beijo.

MariaAngélica disse...

Apesar de conhecê-lo há pouco tempo, também senti muito a morte do poeta que deu um brilho a mais ao nosso encontro em 2006.
Que ele esteja em paz e seus poemas deixem em paz os que ficaram na saudade.
Abraços de confraternização.
BiláBernardes

Chris Herrmann disse...

Ele estará sempre presente conosco através de sua poesia e continuará poetando, desta vez, para o delírio dos anjos.

Linda e merecida homenagem, Ade.

Chris

Luiz de Aquino disse...

Meu querido Ademir Bacca,

Agradeço - e penso poder fazê-lo em nome do "poetariado" de Goiás - a homenagem bonita e muito justa ao nosso Aldair Aires. Conheci-o num distante dia de primavera, em 1963, e logo travamos uma amizade que perdurou até este crepúsculo das nossas vidas, pois que nossos cabelos já se acinzentaram e são bem menos volumosos. Fui aluno de Aldair no meu terceiro ano de Clássico, no tradicional Liceu de Goiás, em Goiânia; quando presidi a UBE, era ele o secretário-geral e foi o autor de uma proposta que lhe concedeu, Ademir, o título de membro honorário da nossa entidade.
Há poucos meses, estive em sua casa, em Silvânia, acompanhado dos escritores Nilson Gomes e Elson Gonçalves de Oliveira; foi a nossa despedida não pensada.
Guardo, dele, o falar terno e denso, a autoridade intelectual e aquela sempre paixão por tudo o que nos lembra que o Ser Humano pode, sim, ser superior: basta ser sensível para a arte.

Ademir A. Bacca disse...

Caro Aquino,
jamais vou esquecer aquele fim de tarde quando fui homenageado em goiânia, eu, você, aldair, malu ribeiro e dalva chitara jogando poesia fora na mesa de diversos bares, lembrando histórias do congresso e agendando uma visita ao pedro raizero à qual você acabou não comparecendo. velhos e inesquecíveis bons tempos, que passaram só no calendário, mas estarão para sempre gravados em mim.
Domingo acordei com um mau pressentimento e liguei para o zé mendonça pedindo notícias do aldair e também escrevi para a beth e para o aidenor, que ao buscar notícias na terça-feira ficou sabendo da morte do nosso poeta.
grande abraço

Anônimo disse...

"Um grande abraço ao poeta que alçou vôo."

Anônimo disse...

E que o caminho da poesia torne-se luz!
Grande vôo ao Poeta.

Anônimo disse...

Ademir, bonita e merecida homenagem ao poeta.

Faço minhas as palavras de Aldair Alves:

"é hora de sentir a beleza da vida,
é hora de viver a grandeza da vida,
é hora de amar a poesia da vida."

Um abraço, Márcia.

Unknown disse...

A poesia está nas coisas simples, como a vida e a morte.

É hora de lembrar que os bons momentos são feitos de poesia.

É bom lembrar que saudade também é poesia. E que através da saudade nos colocamos mais próximos daqueles que partiram.

Parabéns pela homenagem!

Certamente Aires deve estar ainda mais orgulhoso do amigo poeta.

Beijos, Ademir.

Anônimo disse...

Ademir:
No es necesario que te diga cuanto siento la muerte de Aldair. Gocé de su amistad, de su trato maravilloso. Seguramente costará trabajo llenar su espacio en los Congresos.
Trasmite a todos mi solidaridad plena, a su familia dile que sus amigos cubanos lo admiramos en cuanto valía.
Espero que me anuncies alguna sorpresa de algún viaje a Cuba.
Ya empiezo a estar un poco menos comprometido con el trabajo en Santa Clara.
Paco

Anônimo disse...

Ademir, acabo de hacer el intento de contestar tu mensaje. No se si te llogó la respuesta.
Aldair ES alguien muy querido y su muerte la sentimos mucho. Siempre recordaré sus gestos bondadosos y su trasto maravilloso. Siempre tendre presente sus poesis, excelentes.
Trasmite, por favor, mis condolencias a sus familia y a todos ustedes mis colegas.
Cuando te tendremos por aqui, a ti o a agluien de los amigos.
Ya empiezo a estar más despejado.
Paco

A Autora disse...

O tempo nunca apaga o poeta não é Ademir? E nem as poesias vividas, sentidas...fico triste ao saber de suas perdas e lembrar das minhas....
PS: Vc me deixou com água na boca com o comentário no céu...puxa quando será que chegará aquele dia............chegará...um beijo grande sempre grata pelo seu carinho estimulante
Carol Montone

A Autora disse...

afinal a brevidade da vida é evidente e o tempo dói....
beijos
Carol

SAM disse...

É com pesar que tomo conhecimento da morte de um astro da poesia que deixa vazio um grande espaço nesta arte e na sabedoria que semeava no seu dia a dia.


Abraço

Izelda Maia disse...

Bom dia, Bacca!
Bela homenagem!
O poeta parte, mais fica eternizada a sua obra.

Anônimo disse...

Afalta de Aldair sera sempre sentida, agradeços a todos pelas palavras, meu tio e pai sempre foi muito importante para nos. CELSO RODRIGURS AIRESA. CATALÃO - GOIAS.