poeta, escritor, contista, jornalista, radialista, pesquisador e produtor cultural
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
beber
as emoções todas
no cálice da ousadia;
sonhar
todos os sonhos imagináveis
da maneira mais louca possível;
quebrar
todas as regras de comportamento
e desafiar
todas as leis,
em todos os países.
E depois, John,
vestir paletó e gravata
e renegar o tempo
que passou?
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
nasça
da ação e da meditação.
Sem ação
ou tendência à ação
ela será apenas teoria
que está levando os jovens
ao desespero.
Se ela é apenas ação
sem meditação
ela acabará no ativismo
sem fundamento,
sem conteúdo,
sem força...
Presta honras ao Verbo eterno
servindo-te da palavra
de forma
a recriar o mundo.
© D. HELDER CÂMARA
07/02/1905 – 27/08/1999
escrever um poema
é serviço de carpintaria
a habilidade de martelar um prego
tem a ver com a sutileza de uma palavra
esparramando-se na folha de papel
a paciência de buscar a palavra certa
num ninho de fantasias
tem a ver com a firmeza
em acertar o encaixe de cada tábua
assim como sabe o carpinteiro
ser fundamental a sincronia de prego e martelo,
o poeta precisa dosar realidade e fantasia
em cada paixão a que se entrega
escrever um poema
é serviço de carpintaria:
árduo e cansativo,
algumas vezes repetitivo
como a luta entre o prego
e o martelo
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”

CARTA DE EDUARDO GALEANO ENDEREÇADA AO FUTURO
Prezado Senhor Futuro,
Com a minha maior consideração:
Estou lhe escrevendo esta carta para pedir-lhe um favor. O senhor saberá desculpar-me o incômodo.
Não, não tema, não é que queira conhecê-lo. O senhor há de ser muito solicitado, haverá tanta gente que quererá ter o prazer; mas eu não. Quando alguma cigana me toma a mão para ler-me o porvir, saio correndo em disparada antes que ela possa cometer tal crueldade.
E, no entanto, você, misterioso senhor, é a promessa que nossos passos perseguem querendo sentido e destino. E é este mundo, este mundo e não outro mundo, o lugar onde o senhor nos espera. A mim e aos muitos que não acreditamos nos deuses que nos prometem outras vidas nos mais longínquos hotéis de Mais Além.
E aí está o problema, senhor Futuro. Estamos ficando sem mundo. Os violentos o chutam, como se fosse uma bola. Jogam com ele os senhores da guerra, como se fosse uma granada de mão; e os vorazes o espremem, como se fosse um limão. A este passo, temo, mais cedo do que tarde, o mundo poderá ser não mais do que uma pedra morta girando no espaço, sem terra, sem ar e sem alma.
Disso se trata, senhor Futuro. Eu lhe peço, nós lhe pedimos, que não se deixe desalojar. Para estar, para ser, necessitamos que o senhor siga estando, que o senhor siga sendo. Que o senhor nos ajude a defender a sua casa, que é a casa do tempo.
Quebre-nos esse galho, por favor. A nós e aos outros: aos outros que virão depois, se tivermos depois.
Saúda-te atentamente,
Um Terrestre
© EDUARDO GALEANO — Tradução: Verena Glass
sábado, fevereiro 10, 2007
Se alguém disser “Alfredo da Rocha Vianna Filho”, pouca gente vai saber de quem se está falando. Mas se disser “Pixinguinha”, aí todo mundo saberá que a referência diz respeito a um dos maiores gênios da história da música popular brasileira de todos os tempos.
Com um domínio técnico e um dom de improvisação encontrados nos grandes músicos de jazz, é considerado o maiorflautista brasileiro de todos os tempos, além de um irreverente arranjador e compositor. Entre suas composições de maior sucesso estão “Carinhoso”, “Lamento” e “Rosa”. Na década de 1940, sem a mesma embocadura para o uso da flauta e com as mãos trêmulas devido à sua devoção ao uísque, Pixinguinha trocou a flauta pelo saxofone, formando uma dupla com o flautista Benedito Lacerda. Fez uma parceria famosa com Vinícius de Moraes, na trilha sonora do filme Sol sobre a Lama, em 1962.
Morreu no dia 17 de fevereiro de 1973.

Em fevereiro de 1922, jovens poetas, escritores e artistas liderados por Mario e Oswald de Andrade reuniram-se para organizar três festivais, que seriam apresentados no Teatro Municipal de São Paulo. O objetivo era revolucionar a arte brasileira e romper de vez com o academicismo presente nas artes plásticas, na literatura e na música. Influenciados pela vanguarda artística européia, formada por surrealistas, futuristas e dadaístas, os modernistas paulistas desejavam expor o que acreditavam ser uma " nova arte nacional", criada a partir da "antropofagia cultural", que, segundo eles, seria a característica básica da sociedade brasileira. Isto tudo aconteceu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro e o evento acabou entrando para a história como “Semana de Arte Moderna” e acabou sendo o divisor das águas no cenário cultural brasileiro do século passado.

cais
em ti
aporto versos
mal feitos
e medos
acumulados
em temporais
que, por pouco,
não me levaram
a pique
em teus braços
ancoro palavras
e sonhos cansados
de tudo que vem do mar
feito onda que não cansa
de dar na praia
em ti
aporto sonhos
de palavras
que rasgam as trevas
e anunciam novas manhãs.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
No dia 12 de fevereiro de 1984, a literatura latino-americana perdia um dos seus nomes mais expressivos. Nascido em Bruxelas em 1914, JULIO CORTÁZAR produziu uma obra que explorou as fronteiras entre realidade e inrealidade e foi apontada pela crítica como uma das mais representativas da ficção fantástica de nosso tempo. Iniciou a vida como professor secundário em Buenos Aires e depois recusou uma cátedra universitária, por opor-se ao regime peronista. Contratado como tradutor pela UNESCO (1952), radicou-se em Paris e tornou-se cidadão francês (1982). Estreou na literatura com o poema dramático Los reyes (1949) seguido do seu primeiro livro de contos, Bestiário (1951). Morreu em Paris. De todos os seus livros, o meu preferido é “O Jogo da Amarelinha”.
que divide a razão
e a paixão
torna toda travessia
perigosa batalha emocional
se ganha a razão,
enfraquece-se a paixão
se ganha a paixão,
fortalece-se a insensatez
na verdade,
o fio imaginário
que existe entre a razão e a paixão
deveria ser estopim
para incendiar todas as madrugadas
vazias
© Ademir Antonio Bacca
Cantor, compositor e guitarrista, Robert Nesta Marley nasceu em St. Ann, na Jamaica, no dia 6 de fevereiro de 1945. Ex-integrante da banda The Waillers, da qual participavam também Peter Tosh e Bunny Livingson, foi o responsável pela difusão do reggae para o mundo. Mesmo com sua morte prematura devido a um melanoma, em 11 de maio de 1981, ainda hoje suas músicas são ouvidas por uma legião de fãs espalhados pelos quatro cantos do continente.
Amor é fogo que arde sem se ver
© Luis Vaz de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?