terça-feira, julho 25, 2006

POEMAS QUE GOSTO (26)

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

© FERREIRA GULLAR
De “Na Vertigem do Dia” (1975-1980)

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande poeta, que felicidade essa tua em ter tido o privilégio de conhecer o grande mestre da poesia, MARIO QUINTANA.
Eu te invejo...No bom sentido e fico com os versos dele guardados e neles busco caminhar na poesia que me chega a cada dia.
Há uma razão...
(Maria Edilia Maia)

Quero escrever algo que sei,
mas não sei muito bem dizer.
Coisas sentidas não se diz
são segredos, verdades fortes .

Coisas acumuladas emudecem –me,
talvez faça sentido hoje escrevê-las .
Lembranças que precisam ir
mas insistente permanecem...

Há coisas difíceis de abandonar,
outras fáceis de controlar.
Questões que ainda são dúvidas,
outras tantas, descobertas...


Que não falte a certeza de ir
contra a corrente desse mar.
Nada a temer no navegar,
o que é preciso alcançar...

Amar é apenas um fazer,
tão prazer que supera o sofrer.
Se sou feliz ou infeliz
Minhas penas são lindas.

Ah! esse coração poeta !

Um abraço grande e até breve no CONGRESSO INTERNACIONAL DE POESIAS
M. Edilia