
poeta, escritor, contista, jornalista, radialista, pesquisador e produtor cultural
sexta-feira, março 31, 2006
POEMAS QUE GOSTO (14)
POEMA ENJOADINHO
Vinícius de Morais
Filhos...Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como o queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Vinícius de Morais
Filhos...Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como o queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filho? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
Filho? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
quinta-feira, março 30, 2006
DO TEU SABOR
O gosto da tua pele
sal impregnado em meus lábios
que me mata de sede
à beira da fonte dos teus prazeres.
O teu gosto na minha boca
mel que sacia meus desejos
na hora derradeira
do medo de te perder
em meio aos lençóis.
O teu cheiro impregnado
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...
® Ademir Antonio Bacca
* do livro “Pandorgas ao Vento”
O gosto da tua pele
sal impregnado em meus lábios
que me mata de sede
à beira da fonte dos teus prazeres.
O teu gosto na minha boca
mel que sacia meus desejos
na hora derradeira
do medo de te perder
em meio aos lençóis.
O teu cheiro impregnado
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...
® Ademir Antonio Bacca
* do livro “Pandorgas ao Vento”
quarta-feira, março 29, 2006
Desencontro
Há uma rua
que cruza entre nós,
cheia de sinais e de placas,
cheia de gente estranha,
e nos separa assim como somos:
dois corpos que se atraem
comandados por dois corações
que se evitam.
Há muito movimento
na rua que cruza entre nós.
Por isso temos nos encontrado
tão pouco...
© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Asas e Coração”
Há uma rua
que cruza entre nós,
cheia de sinais e de placas,
cheia de gente estranha,
e nos separa assim como somos:
dois corpos que se atraem
comandados por dois corações
que se evitam.
Há muito movimento
na rua que cruza entre nós.
Por isso temos nos encontrado
tão pouco...
© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Asas e Coração”
terça-feira, março 21, 2006
INJUSTIÇADOS DA INTERNET (1)
VLADIMIR KUSH
A internet tem servido de palco para que internautas desavisados cometam uma série cada vez mais crescente de injustiças contra escritores e artistas plásticos. Geralmente, textos e obras são atribuídos sempre a um autor famoso. Graças à poeta SOLANGE FIRMINO, este espaço pode fazer um reparo sobre um conjunto de artes belíssimas que vêm sendo erroneamente atribuídas a Salvador Dalí e na verdade são de autoria de VLADIMIR KUSH. A mim intrigava o fato de, fã incondicional de Dalí conforme já admitido em post neste blog, ter estado no museu do pai do surrealismo em Figueres, nas proximidades de Barcelona, e não ter visto nenhuma destas obras que lhe são atribuídas aqui na net, mesmo nos postais ali colocados à venda.
SOLANGE FIRMINO não apenas desvenda a verdadeira autoria dos quadros, como ensina o caminho para conhecer toda a obra de KUSH:
http://www.artifactsgallery.com/art.asp?%21=A&ID=762
Foi de lá que tirei estes dois trabalhos acima, que divido com vocês.
http://www.artifactsgallery.com/art.asp?%21=A&ID=762
Foi de lá que tirei estes dois trabalhos acima, que divido com vocês.
Mosaico
com a paciência
de um velho tecelão
preparo meu manto de lembranças
para quando o frio dos anos
anunciar seu inverno mais rigoroso
em lentos goles de vinho
faço desfilar na passarela
dos meus olhos
os sonhos que trago
dentro de mim
e assim,
noite após noite de insônia
monto o mosaico de todo o tempo
que me escapuliu
por entre os dedos.
© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
com a paciência
de um velho tecelão
preparo meu manto de lembranças
para quando o frio dos anos
anunciar seu inverno mais rigoroso
em lentos goles de vinho
faço desfilar na passarela
dos meus olhos
os sonhos que trago
dentro de mim
e assim,
noite após noite de insônia
monto o mosaico de todo o tempo
que me escapuliu
por entre os dedos.
© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
quinta-feira, março 16, 2006
JANELA SOBRE HERANÇA
Pola Bonilla modelava barros e crianças. Ela era ceramista de mão-cheia e mestre-escola nos campos de Maldonado; e nos verões oferecia aos turistas suas esculturas e chocolate com churros.
Póla adotou um negrinho nascido na pobreza, dos muitos que chegam ao mundo sem ter com que, e criou-o como se fosse um filho.
Quando ela morreu, ele já era um homem crescido e com ofício. Então os parentes de Pola disseram a ele:
— Entre na casa e pode levar o que quiser.
E ele saiu com uma fotografia dela debaixo do braço e se perdeu nos caminhos.
® EDUARDO GALEANO, no livro “As Palavras Andantes”
POEMAS QUE GOSTO (11)
Poeta, cronista e crítico de arte, AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA é um grande amigo que o Congresso Brasileiro de Poesia me proporcionou. Mesmo antes de sua primeira vinda ao evento, eu já era fã de sua poesia e, entre tantos poemas maravilhosos que ele escreveu, este é um dos meus preferidos.
ASSOMBROS
Às vezes, pequenos grandes
terremotos
ocorrem do lado esquerdo do
meu peito.
Fora, não se dão conta os
desatentos.
Entre a aorta e o omoplata
rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo
escombros.
Em mim há algo imóvel e
soterrado
em permanente assombro.
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA
Poeta, cronista e crítico de arte, AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA é um grande amigo que o Congresso Brasileiro de Poesia me proporcionou. Mesmo antes de sua primeira vinda ao evento, eu já era fã de sua poesia e, entre tantos poemas maravilhosos que ele escreveu, este é um dos meus preferidos.
ASSOMBROS
Às vezes, pequenos grandes
terremotos
ocorrem do lado esquerdo do
meu peito.
Fora, não se dão conta os
desatentos.
Entre a aorta e o omoplata
rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo
escombros.
Em mim há algo imóvel e
soterrado
em permanente assombro.
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA
nós
essa coisa
que há em nós
busca que não cessa
palavra que não sacia
esperança que a gente tece
teimosamente
todos os dias
essa coisa
que há em nós
bálsamo para tantas dores
que a gente acostumou
e nem mais sente
força estranha
que há em nós
em nos leva pelas ruas
em busca dessas coisas todas
que na madrugada
desatam nossos nós.
® Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
essa coisa
que há em nós
busca que não cessa
palavra que não sacia
esperança que a gente tece
teimosamente
todos os dias
essa coisa
que há em nós
bálsamo para tantas dores
que a gente acostumou
e nem mais sente
força estranha
que há em nós
em nos leva pelas ruas
em busca dessas coisas todas
que na madrugada
desatam nossos nós.
® Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
domingo, março 05, 2006
POEMAS QUE GOSTO (10)
CHRIS HERRMANN mora na Alemanha mas é uma das responsáveis por duas das comunidades mais agitadas do Orkut, que foi onde a conheci: “Café Filosófico das Quatro” e “Sociedade dos Pássaros-Poetas”. Gosto dos seus poemas e hai-cais. Este poema, anunciando a nova estação, divido com vocês:
OUTONO
Ainda que chegue o Outono
e as folhas caiam cegas e insistentes
sobre a relva molhada e desesperançada...
As raízes permanecerão ali quietas,
calmas e belas em sua verdade,
olhando para a gente...
Fazendo com que a esperança de um dia
suas folhas tornarem a crescer
e a cair novamente
se torne uma realidade.
CHRIS M. HERRMANN
CHRIS HERRMANN mora na Alemanha mas é uma das responsáveis por duas das comunidades mais agitadas do Orkut, que foi onde a conheci: “Café Filosófico das Quatro” e “Sociedade dos Pássaros-Poetas”. Gosto dos seus poemas e hai-cais. Este poema, anunciando a nova estação, divido com vocês:
OUTONO
Ainda que chegue o Outono
e as folhas caiam cegas e insistentes
sobre a relva molhada e desesperançada...
As raízes permanecerão ali quietas,
calmas e belas em sua verdade,
olhando para a gente...
Fazendo com que a esperança de um dia
suas folhas tornarem a crescer
e a cair novamente
se torne uma realidade.
CHRIS M. HERRMANN
sábado, março 04, 2006
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado no próximo dia 8, dividido com vocês esse belíssimo poema da poeta carioca SOLANGE FIRMINO, que me orgulha com sua amizade:
SER MÃE, SER MULHER
A dor de Deméter
é minha dor.
O retorno de Perséfone
é minha alegria.
A prece de Maria é
meu silêncio.
Pandora, ordem do mundo,
é rancor para os homens
e corrente
para as mulheres.
Meu ventre, casulo de semente,
foi o único descanso real
do meu filho,
minha dor e
meu consolo.
® SOLANGE FIRMINO
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado no próximo dia 8, dividido com vocês esse belíssimo poema da poeta carioca SOLANGE FIRMINO, que me orgulha com sua amizade:
SER MÃE, SER MULHER
A dor de Deméter
é minha dor.
O retorno de Perséfone
é minha alegria.
A prece de Maria é
meu silêncio.
Pandora, ordem do mundo,
é rancor para os homens
e corrente
para as mulheres.
Meu ventre, casulo de semente,
foi o único descanso real
do meu filho,
minha dor e
meu consolo.
® SOLANGE FIRMINO
sexta-feira, março 03, 2006
da insatisfação
carrego comigo
sonhos tantos
e certezas poucas
porque a vida
é do jeito que é:
esquina para uns
labirinto para outros
carrego comigo
poemas tantos
e medos poucos
porque a noite
nem sempre parece
o que é
e dela eu quero mais
que um manto de estrelas
e uma mísera lua
de vez em quando
pendurada no céu
carrego comigo
verdades tantas
e esperanças poucas
porque a vida
nem sempre é.
® Ademir Antonio Bacca
do livro: ‘Plano de Vôo”
carrego comigo
sonhos tantos
e certezas poucas
porque a vida
é do jeito que é:
esquina para uns
labirinto para outros
carrego comigo
poemas tantos
e medos poucos
porque a noite
nem sempre parece
o que é
e dela eu quero mais
que um manto de estrelas
e uma mísera lua
de vez em quando
pendurada no céu
carrego comigo
verdades tantas
e esperanças poucas
porque a vida
nem sempre é.
® Ademir Antonio Bacca
do livro: ‘Plano de Vôo”
Sou fã incondicional do escritor uruguaio EDUARDO GALEANO. Li e reli diversas vezes todos os seus livros e a cada leitura descubro um pouco mais do talento deste grande escritor. De todos os seus livros, o meu preferido é "O LIVRO DOS ABRAÇOS", de onde tirei esta pequena história para dividi-la com vocês:
A FUNÇÃO ARTE
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o sul.
Ele, o mar, estava no outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!
A FUNÇÃO ARTE
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o sul.
Ele, o mar, estava no outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!

Na primeira vez que fui a Cuba, durante a viagem a Santa Clara onde está enterrado o corpo de Che Guevara, este painel na beira da rodovia chamou minha atenção. Depois, em visita à Biblioteca da cidade, eu e o poetas Hugo Pontes, Haidê Vieira Pigatto, Adélia Woellner e Diniz Félix dos Santos, mais meu sogro Dr. João Fausto Condurú, devidamente ciceroneados pelo grande poeta cubano Virgílio López Lemus, descobrimos o quanto um livro é valorizado naquele país: apesar do racionamento de energia elétrica em toda a ilha, na Biblioteca de Santa Clara existe uma sala de livros raros, com ar condicionado permanentemente ligado para preservá-los. Fosse aqui no Brasil, vocês sabem o que teria acontecido com os livros.
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