terça-feira, setembro 05, 2006

Steve Irwin
O meu pé esquerdo aparenta ter bem mais anos do que tenho. Digo isso porque todos os velhos que conheço, a começar pela minha mãe, toda vez que o pé ou a mão, seja esquerdo ou direito, começa a doer, é porque vem coisa pelo caminho. No mínimo anuncia chuva. O meu, quando dói, geralmente é crise da artrite que me acompanha desde os 28 anos. De ontem para cá o meu pé esquerdo começou a doer e sei que não é do frio de quase zero grau que fez na madrugada e nem crise de artrite que se anuncia. Começou a doer depois que li nos jornais a morte de Steve Irwin no litoral da Austrália, vitimado por um ferrão de arraia. Logo ele, acostumado a conviver perigosamente com bichos do mar. Meu pé começou a doer porque assim como o poeta que me habita nas madrugadas insone, ele também tem memória e voltou ao tempo. Mais precisamente para uma tarde de julho de 1981, no interior de Goiás, quando numa pescaria tive a infelicidade de ser vítima do ferrão de uma arraia, não das gigantes como a que acertou o coração de Steve, mas uma carijó que fez um estrago danado no meu pé e fez primeiro com que eu conhecesse a dor na verdadeira acepção da palavra e depois, que me arrastasse durante meses até que a ferida cicatrizasse. Por muitos anos amaldiçoei aquele dia que me afastou das costumeiras pescarias no Rio Araguaia. Agora, lendo os jornais, descubro que tive mais sorte do que Steve e não sei se meu pé está doendo porque periga nevar a qualquer momento ou em solidariedade ao ambientalista que eu estava acostumado a ver na televisão enfrentando crocodilos, serpentes ou qualquer bicho que aparecesse na sua frente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ade,
Tu tens mais sorte do que eu. Minha artrite começou aos 22 anos de idade e me acompanha até hoje. Mas com ela aprendi muito. A gente acaba se tornando mais paciente, desacelera o ritmo da vida, lê, escreve, observa, sonha...
E a dor, na maioria das vezes, é intensa mas logo passa, como chuva de verão.
Ao menos estamos vivos - e isto é uma dádiva, não só um consolo.
Abraço
Rejane