poeta, escritor, contista, jornalista, radialista, pesquisador e produtor cultural
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
quinta-feira, fevereiro 23, 2006

PAULO RENATO RODRIGUES
Quando comecei a brincar com arte digital, PAULO RENATO RODRIGUES já era fera no assunto e já acumulava alguns prêmios, aqui no Brasil e no exterior. É o meu mestre em arte digital, autor de belíssimos trabalhos, especialmente este, o meu preferido. Gosto tanto desta obra que já fiz inclusive uma capa do Garatuja com ela.

HUGO PONTES
Mineiro de Poços de Caldas, HUGO PONTES é o grande nome da poesia visual brasileira e um nome respeitadíssimo no exterior. Há dez anos que coordena a Mostra Internacional de Poesia Visual que acontece junto com o Congresso Brasileiro de Poesia aqui em Bento Gonçalves. Autor de trabalhos premiados em diversas mostras internacionais, sem dúvida alguma "NÓS", é o meu preferido.
de portas & trancas
portas abrem
e fecham
corações também
nem sempre
quem se quer
entra
nem sempre
quem se gostaria
sai
portas fecham
e abrem
corações também
nem sempre quem sai
nos deixa só
nem sempre quem entra
nos tira da solidão
portas e corações
deviam ter trancas
também pelo lado de fora.
® Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”
portas abrem
e fecham
corações também
nem sempre
quem se quer
entra
nem sempre
quem se gostaria
sai
portas fecham
e abrem
corações também
nem sempre quem sai
nos deixa só
nem sempre quem entra
nos tira da solidão
portas e corações
deviam ter trancas
também pelo lado de fora.
® Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
A BALA FATAL
a bala fatal
não é aquela
que tomba o corpo
definitivamente
tão pouco é a da dor única
e derradeira
fatal é a bala
que acerta o ninho de sonhos
em cheio
e estilhaça-o em pedaços tantos
de se perder a conta
e não mais se conseguir juntá-lo
num só.
a bala que tomba o corpo
sangra só uma vez.
a outra,
dói todos os dias
pro resto da vida da gente.
® Ademir Antonio Bacca
* do livro “Pandorgas ao Vento”
a bala fatal
não é aquela
que tomba o corpo
definitivamente
tão pouco é a da dor única
e derradeira
fatal é a bala
que acerta o ninho de sonhos
em cheio
e estilhaça-o em pedaços tantos
de se perder a conta
e não mais se conseguir juntá-lo
num só.
a bala que tomba o corpo
sangra só uma vez.
a outra,
dói todos os dias
pro resto da vida da gente.
® Ademir Antonio Bacca
* do livro “Pandorgas ao Vento”


FERNANDO AGUIAR, poeta português, é o grande nome da poesia visual em todo o mundo. Tive o prazer de tê-lo trazido diversas vezes ao Congresso Brasileiro de Poesia e tenho o privilégio de desfrutar de sua amizade e o maior orgulho em ser seu fã. Posto aqui dois poemas visuais dele dos quais gosto muito.
terça-feira, fevereiro 21, 2006

The Construction Workers - GILES TRAN - Técnica: Arte Digital
Depois que o Proyecto Cultural Sur começou a promover mostras de arte de seus integrantes, aqui no Brasil e no exterior, comecei a me interessar mais pela arte digital. De uns cinco anos para cá tenho me aventurado entre a arte digital e os fractais. Do meu arquivo tiro um trabalho daquele que considero o número um da arte digital entre as feras que tive oportunidade de conhecer a obra, o francês GILES TRAN.
domingo, fevereiro 19, 2006
POEMAS QUE GOSTO (9)
Estávamos preparando a segunda edição do Congresso Brasileiro de Poesia e o poeta pernambucano Carlos Barros, idealizador dos projetos “Poesia na Vidraça” e “Pitangueiras Poéticas”, me mandou uma reportagem publicada no Jornal do Comércio intitulada “A trajetória do poeta: de garçon a governador”. Era a trajetória de RONALDO CUNHA LIMA, recém eleito governador dao Estado da Paraíba, que atendeu prontamente nosso convite e foi uma das atrações em Nova Prata naquele ano de 1991. Autor de poemas belíssimos, sinceramente eu gostaria de ter escrito este:
ERA SEGUNDA IMAGINEI DOMINGO
Era segunda, imaginei Domingo.
Era de noite, imaginei manhã.
Chovia muito e eu imaginava sol.
As pessoas se comprimiam e eu não via nada.
Havia multidão e eu me sentia só.
Você não estava, mas eu a fiz presente.
Você chegava sem saber se estava,
Você falou sem saber o que disse
E disse coisas sem dizer palavras.
Você estava perto sem saber se estava
E até beijou sem se sentir beijada
Era segunda e imaginei domingo.
Chegou o sol e se fez manhã,
Chegou o dia e se fez domingo.
Houve palavras, mas não eram suas.
Houve presença, mas sem ser você.
Houve multidão e agitação profunda.
Então, era manhã e eu quis a noite.
Fazia sol e eu queria chuva.
Era domingo e desejei segunda.
RONALDO CUNHA LIMA
Estávamos preparando a segunda edição do Congresso Brasileiro de Poesia e o poeta pernambucano Carlos Barros, idealizador dos projetos “Poesia na Vidraça” e “Pitangueiras Poéticas”, me mandou uma reportagem publicada no Jornal do Comércio intitulada “A trajetória do poeta: de garçon a governador”. Era a trajetória de RONALDO CUNHA LIMA, recém eleito governador dao Estado da Paraíba, que atendeu prontamente nosso convite e foi uma das atrações em Nova Prata naquele ano de 1991. Autor de poemas belíssimos, sinceramente eu gostaria de ter escrito este:
ERA SEGUNDA IMAGINEI DOMINGO
Era segunda, imaginei Domingo.
Era de noite, imaginei manhã.
Chovia muito e eu imaginava sol.
As pessoas se comprimiam e eu não via nada.
Havia multidão e eu me sentia só.
Você não estava, mas eu a fiz presente.
Você chegava sem saber se estava,
Você falou sem saber o que disse
E disse coisas sem dizer palavras.
Você estava perto sem saber se estava
E até beijou sem se sentir beijada
Era segunda e imaginei domingo.
Chegou o sol e se fez manhã,
Chegou o dia e se fez domingo.
Houve palavras, mas não eram suas.
Houve presença, mas sem ser você.
Houve multidão e agitação profunda.
Então, era manhã e eu quis a noite.
Fazia sol e eu queria chuva.
Era domingo e desejei segunda.
RONALDO CUNHA LIMA
POEMAS QUE GOSTO (8)
Eu e Rossyr Berny estreamos em livro no mesmo ano e fomos aproximados por um amigo em comum, Antonio Luis Picolli. De lá para cá construímos uma amizade sólida em que pese ele ter o defeito quase que imperdoável de ser gremista. Uma das vozes mais forte da poesia social do Rio Grande do Sul, é autor de poemas que qualquer poeta que se preze gostaria de ter escrito. Eu, particularmente, gosto muito deste:
CINZAS NA LUZ
iguais meninos que vendem doces
mas andam amargos
os homens estão escuros
cabisbaixos
mas em decididas procissões
vão aos armazéns comprar cordas
testam a resistência
e pela primeira vez não perguntam o preço
na última compra de caderno
mandam enrolar os necessários metros
para nunca mais deverem nada
ROSSYR BERNY
CINZAS NA LUZ
iguais meninos que vendem doces
mas andam amargos
os homens estão escuros
cabisbaixos
mas em decididas procissões
vão aos armazéns comprar cordas
testam a resistência
e pela primeira vez não perguntam o preço
na última compra de caderno
mandam enrolar os necessários metros
para nunca mais deverem nada
ROSSYR BERNY

Eu olho a vida
sem os óculos
que me acompanham
ao longo dos últimos anos.
E assim,
poeta que penso ser,
sem a ajuda de lentes
vejo o mundo com as cores
que meus olhos gostariam de ver.
Eu olho a vida
com imensa saudade
do que ela se mostrou
por inteira
um dia
aos meus olhos de criança.
® Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”
sem os óculos
que me acompanham
ao longo dos últimos anos.
E assim,
poeta que penso ser,
sem a ajuda de lentes
vejo o mundo com as cores
que meus olhos gostariam de ver.
Eu olho a vida
com imensa saudade
do que ela se mostrou
por inteira
um dia
aos meus olhos de criança.
® Ademir Antonio Bacca
do livro: “Pandorgas ao Vento”
sábado, fevereiro 18, 2006
Técnica: Arte Digital - Programa utilizado: Photoshop
POEMAS QUE GOSTO (7)
Conheci Aldair Aires numa mesa de bar. Foi em Goiânia no início dos anos 90, quando lá estive para receber uma homenagem da UBE/GO e desde então sou fã de sua poesia, sem dúvidas uma das melhores do estado goiano, terra de tantos poetas maravilhosos. Mestre também do artesanato, prepara uma galinha com pequi digna dos versos de Neruda. Entre tantos poemas seus que gosto, divido com vocês este:
O (BAR) CO
Este bar me abarca
E neste barco
Navego as ilusões
Que nunca se aportam
Pois não há porto
Nem porta
Nesse desabar
De desamor
ALDAIR AIRES
POEMAS QUE GOSTO (7)
Conheci Aldair Aires numa mesa de bar. Foi em Goiânia no início dos anos 90, quando lá estive para receber uma homenagem da UBE/GO e desde então sou fã de sua poesia, sem dúvidas uma das melhores do estado goiano, terra de tantos poetas maravilhosos. Mestre também do artesanato, prepara uma galinha com pequi digna dos versos de Neruda. Entre tantos poemas seus que gosto, divido com vocês este:
O (BAR) CO
Este bar me abarca
E neste barco
Navego as ilusões
Que nunca se aportam
Pois não há porto
Nem porta
Nesse desabar
De desamor
ALDAIR AIRES
POEMAS QUE GOSTO (6)
Descobri a poesia da paranense ANDREA MOTTA há pouco tempo, mas tempo suficiente para gostar do seu jeito de escrever. Gosto especialmente deste poema:
ENVELHECÊNCIA
As vezes sinto vontade
de vestir-me de ontem,
jeans surrado,
regata colada ao corpo
E perambular pelo amanhã
como se não houvesse senões.
ANDREA MOTTA
Descobri a poesia da paranense ANDREA MOTTA há pouco tempo, mas tempo suficiente para gostar do seu jeito de escrever. Gosto especialmente deste poema:
ENVELHECÊNCIA
As vezes sinto vontade
de vestir-me de ontem,
jeans surrado,
regata colada ao corpo
E perambular pelo amanhã
como se não houvesse senões.
ANDREA MOTTA
DO TEU SABOR
O gosto da tua pele
sal impregnado em meus lábios
que me mata de sede
à beira da fonte dos teus prazeres.
O teu gosto na minha boca
mel que sacia meus desejos
na hora derradeira
do medo de te perder
em meio aos lençóis.
O teu cheiro impregnado
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...
® Ademir Antonio Bacca
* do livro “Pandorgas ao Vento”
O gosto da tua pele
sal impregnado em meus lábios
que me mata de sede
à beira da fonte dos teus prazeres.
O teu gosto na minha boca
mel que sacia meus desejos
na hora derradeira
do medo de te perder
em meio aos lençóis.
O teu cheiro impregnado
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...
® Ademir Antonio Bacca
* do livro “Pandorgas ao Vento”
quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Minha mãe trouxe da roça o hábito do plantio. Na cidade, dentro dos limites da sua casa, aproveitou cada palmo de terra para plantar flores de todas as espécies. No tronco de árvores frutíferas enxertou mudas de orquídeas e pelos canteiros misturou toda semente que lhe caiu nas mãos. O colorido em torno da velha casa dela sempre me chamou a atenção - até plantei duas 'três marias' que me dão uma trabalheira e me esfolam mãos e braços com seus espinhos pontiagudos. Dia desses, máquina fotográfica em punho, resolvi fotografar a Dona Precedina em meio a suas flores. Divido com vocês um pouco das cores que captei.
POEMAS QUE GOSTO (5)
Oscar Bertholdo (1935-1991) dizia que a melhor parte do poema era enxugá-lo, tirar seus excessos. O poema curto sempre atraiu minha preferência e fez com que eu passasse a admirar muitos poetas brasileiros. Entre eles, EDIVAL PERRINI, de Curitiba, que sabe dizer tudo em três ou quatro versos. Este poema dele é um dos que não canso de ler.
*
VÉRTICE
homem em pé sobre a canoa
pesca a manhã de cada dia,
noventa graus de poesia.
EDIVAL PERRINI
homem em pé sobre a canoa
pesca a manhã de cada dia,
noventa graus de poesia.
EDIVAL PERRINI
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
TANGO 1 by adebach/2001
Alguém já prestou atenção nos movimentos dos pés de um dançarino de tango?
Numa madrugada qualquer do ano de 2001 escutava Astor Piazzolla e de repente me descobri tentando imaginar como ficariam os pés de um dançarino no dia seguinte. E aí nasceram estas duas artes digitais, com a ajuda do Photoshop. Primeiro o pé direito, depois o esquerdo.
POEMAS QUE GOSTO (4)
Do grande círculo de poetas com quem tenho o prazer de conviver, SUELY DE FREITAS MARTÍ tem um lugar especial na minha galeria de afetos. Acompanho sua trajetória desde os primeiros versos e digo sem o menor receio que pouca gente neste Brasil escreve tão bem quanto ela. Hoje acordei com este poeminha dela na cabeça e reparto-o com vocês:
*
sob a memória da pele
tuas mãos persistem
devassando inconfessáveis desejos.
(SUELY DE FREITAS MARTÍ)
terça-feira, fevereiro 14, 2006
Plantio
Não jogo sementes
por sobre a terra revolta,
num gesto mecânico e cansado
de quem planta
só porque mandaram plantar.
Planto as minhas sementes
como se fosse um ato de amor
e me entrego a este plantio
como se desse gesto dependesse
o meu gozo.
Semeio sonhos
sem medo nenhum
de colher tempestades.
Não jogo sementes
por sobre a terra revolta,
num gesto mecânico e cansado
de quem planta
só porque mandaram plantar.
Planto as minhas sementes
como se fosse um ato de amor
e me entrego a este plantio
como se desse gesto dependesse
o meu gozo.
Semeio sonhos
sem medo nenhum
de colher tempestades.
*
Ademir Antonio Bacca
* do livro "A Tragédia dos Anjos"
POEMAS QUE GOSTO (3)
Já conhecia a poesia da Valéria Tarelho das agendas da Tribo. No ano passado ela esteve no Congresso Brasileiro de Poesia e eu que já gostava do trabalho dela, virei fã de carteirinha. Este poema fez muito sucesso no projeto "Poesia na Vidraça" aqui em Bento Gonçalves:
*
arte sã
homem é um bicho esquisito:
caça, come, joga fora a carcaça
mulher tem outro instinto:
escolhe, leva para casa, usa...
e com a sobra dos ossos
faz um par de brincos
VALÉRIA TARELHO
homem é um bicho esquisito:
caça, come, joga fora a carcaça
mulher tem outro instinto:
escolhe, leva para casa, usa...
e com a sobra dos ossos
faz um par de brincos
VALÉRIA TARELHO
POEMAS QUE GOSTO (2)
Conheci Lucia Koury em Belo Horizonte no ano passado, no 1º Belô Poético, organizado pelo Rogério Salgado. Do seu belíssimo livro "Desabusos", divido com vocês este poema:
Página Marcada
O corpo da mulher madura
Tem pneuzinho nas costas,
Gordurinha na barriga
Celulite nas coxas.
Mas também tem
Tanta curva,
Tanta história,
Tanta vida
Que dá até pra escrever um livro.
LUCIA KOURY
O corpo da mulher madura
Tem pneuzinho nas costas,
Gordurinha na barriga
Celulite nas coxas.
Mas também tem
Tanta curva,
Tanta história,
Tanta vida
Que dá até pra escrever um livro.
LUCIA KOURY
POEMAS QUE GOSTO (1)
Todo mundo tá careca de saber que o Jiddu Saldanha é o maior mímico em atividade no Brasil, mas poucos sabem que por trás daquela máscara se esconde também um grande poeta (junto com o grande artista plástico, com o grande amigo y otras cositas mas). Sempre fui fã de poemas curtos e acho este dele sensacional:
*
Separação
meu amor,
quando você for se separar
de mim
me avise
que vou junto
JIDDU SALDANHA
meu amor,
quando você for se separar
de mim
me avise
que vou junto
JIDDU SALDANHA
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
INJUSTIÇA LITERÁRIA
A maior injustiça literária conhecida no Brasil em seus quinhentos e tantos anos de história foi cometida - e ainda é, quase que diariamente - contra o poeta paulista EDUARDO ALVES DA COSTA. Um excerto do seu poema "No Caminho com Maiakovski" vem sendo, através dos anos, atribuído erroneamente ao poeta russo Vladimir Maiakovski. O mais estranho é que jornalistas e formadores de opinião já renomados cometem este erro - o mais recente foi o colunista do Jornal Zero Hora de Porto Alegre, David Coimbra - e mesmo quando alertados, não fazem a devida correção, dando o crédito do poema ao seu verdadeiro autor. Nunca se deram ao trabalho de verificar junto aos livros de Maikovski. Se o fizessem, não encontrariam o poema lá e teriam que engolir suas próprias palavras. Quem errou primeiro foi o escritor Roberto Freire, no livro "Viva eu, viva tu, viva o rabo de tatu".
Trata-se de um dos mais belos poemas já escritos e publicados no Brasil. Se algum dia você ouvir alguém atribuí-lo a Maiakovski, utilize a última palavra do próprio poema e grite: MENTIRA! Apresento aos que não conhecem, o poema na sua íntegra, ressaltando em vermelho o texto que virou um ícone na luta contra a ditadura e que popularizou Maikovski entre os estudantes e a esquerda brasileira, muito mais do que a sua excelente obra.
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Rio Grande
para/Ademir Bacca
do teu vinho eu quero a uva
e dela a casca a carne doce
o líquido escorrendo entre os dentes
o sabor gota por gota
colher as folhas
que florescem nos vinhedos
e se puder decifrar os teus segredos...
do rio grande
eu quero as tuas serras
nesta palavra que agora aqui encerra
o meu desejo
estradas vilas e encostas
percorrer tuas matas
tuas costas
na geografia sinuosa dos teus beijos
do teu povo
eu quero a gentileza
o que resume na real grandeza
da tua uva do teu vinho
o que desejo é só carinho
do teu vinho tua uva
eu quero a chuva
a água das tuas cachoeiras
o fluxo das tuas correntezas
esta cidade
que aprendi a conhecer
quando outubro chega
amar e bem-dizer
mesmo teu filho não sendo
nem sabendo do teu berço
do teu ninho
mas ao menos
querendo querendo querendo
estar em tua gente
porque neste momento a cada ano
mudamos nossa pele
refazemos nossos planos
e como hóstia
consagrada em nossa boca
na mais santa eucaristia
celebramos o amor do ser humano
em taças de vinho e poesia
artur gomes
14 setembro 2005
para/Ademir Bacca
do teu vinho eu quero a uva
e dela a casca a carne doce
o líquido escorrendo entre os dentes
o sabor gota por gota
colher as folhas
que florescem nos vinhedos
e se puder decifrar os teus segredos...
do rio grande
eu quero as tuas serras
nesta palavra que agora aqui encerra
o meu desejo
estradas vilas e encostas
percorrer tuas matas
tuas costas
na geografia sinuosa dos teus beijos
do teu povo
eu quero a gentileza
o que resume na real grandeza
da tua uva do teu vinho
o que desejo é só carinho
do teu vinho tua uva
eu quero a chuva
a água das tuas cachoeiras
o fluxo das tuas correntezas
esta cidade
que aprendi a conhecer
quando outubro chega
amar e bem-dizer
mesmo teu filho não sendo
nem sabendo do teu berço
do teu ninho
mas ao menos
querendo querendo querendo
estar em tua gente
porque neste momento a cada ano
mudamos nossa pele
refazemos nossos planos
e como hóstia
consagrada em nossa boca
na mais santa eucaristia
celebramos o amor do ser humano
em taças de vinho e poesia
artur gomes
14 setembro 2005
domingo, fevereiro 12, 2006

O meu Mario Quintana preferido
Este é o ano em que comemoramos o centenário de nascimento do poeta Mario Quintana. Tive a honra de ter o grande poeta como padrinho no lançamento do meu primeiro livro, em parceria com Jovino Nolasco de Souza e Vania Elizabeth Larentis (hoje Pedralli). Foi a única vez que Mario esteve em Bento Gonçalves. Depois ele nos honrou com sua presença no lançamento do livro "Boca do Mundo" (meu e da Vânia), na Livraria Coletânea, em Porto Alegre. Em 1988, A Fundação Serafinense de Cultura, da qual eu era presidente, homenageou-o dando seu nome a Biblioteca Pública de Serafina Correa. Foi o último contato que tive com o poeta, juntamente com a então Secretária Municipal de Educação e Cultura, Jonalda Fornari Soccol.
De uma obra magnífica, o meu poema preferido de Quintana é
EU OUÇO MÚSICA
Eu ouço música como quem apanha chuva:
resignado
e triste
de saber que existe um mundo
do Outro Mundo...
Eu ouço música como quem está morto
e sente
já
um profundo desconforto
de me verem ainda neste mundo de cá...
Perdoai,
maestros,
meu estranho ar!
Eu ouço música como um anjo doente
que não pode voar.
MARIO QUINTANA
30/07/1906 05/05/1994

A cadeira de Hemingway
A Bodeghita del Medio é uma das grandes atrações de Havana. Com suas paredes cheias de mensagens que aproximam turistas de todo o mundo entre um 'mojito' e um "daiquiri", tudo sob a cadeira do grande escritor, devidamente presa no teto. É como se ele brindasse com todos lá de cima. Arrepiante.
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