A casa das palavras
É de palavras
a casa que teimosamente
construo ao longo destes anos
que se arrastam sob meus pés
cansados
Há nela cômodos de palavras inúteis,
algumas que insisti em dizer tantas vezes
e nunca me levaram a nada;
Há na minha casa cômodos de palavras
que evitei nestes anos todos
porque sequer me consolaram
quando os dias se vestiram de dor.
É de palavras
a casa que construo pacientemente
enquanto os anos se lançam
estrada afora
e se fazem saudade que dói
feito a palavra nunca mais.
Mas há nela um cômodo especial
onde guardo as palavras mais belas:
as primeiras do meu filho,
algumas que ficaram dos amigos
a quem a estrada se fez caminho de ida
por primeiro,
as últimas do meu pai
e algumas juras de amor
que ainda aquecem as minhas noites
de poucas palavras.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
Um comentário:
São de palavras também os sonhos que construo... quesera eu que também fosse "uma casa"... mas são de nuvens...
Postar um comentário