O POETA RÚSTICO
© OSCAR BERTHOLDO
1935 – 1991
Quando não houver mais o ofício
de guardar no corpo a razão de ser,
os arados conferirão as encostas,
terei a noite nas mãos.
Nunca soube medir as redondezas
das raízes nem o rosto fatal
dos que ainda não nasceram.
O vale é hóspede que se demora.
Meu outro lado necessário,
de dia nos olhos, de noite nos ouvidos
nem bem nos olhos e nos ouvidos
mas amplo dentro de mim –
árvore com as medidas dos frutos
a todos os que passarem.
Longe daqui sou condenado,
conheço a vida sem crepúsculo,
junto à mesa o sofrimento arde
como lenha seca, o tempo é lento.
Quando sós, as frutas são mais doces.
Sem ambições, nutro poemas serenos
cato seiva à força e
mais fundo o amor. Sou precário
no tamanho do mundo.
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