VINTE E UM ANOS SEM OSCAR BERTHOLDO
Exatos vinte e um anos atrás, no dia 22 de fevereiro de 1991, era assassinado em Farroupilha, o padre/poeta Oscar Bertholdo, o grande incentivador do movimento cultural da região de colonização italiana do Rio Grande do Sul. Naquele dia, meliantes invadiram sua casa em busca de ouro e dólares sem saber que entre aquelas paredes Bertholdo guardava um tesouro incalculável: poemas de grandeza imensurável. Vinte e tres facadas calaram a voz do poeta que cantou, como nenhum, o vale e os braços que transformaram uma região coberta por florestas numa das áreas mais produtivas do país.
ORAÇÃO POR UM CORPO
© OSCAR BERTHOLDO
1936 - 1991
Não há
lugar para o texto, só o corpo.
Mas o corpo
cadente é espada no meio
das mãos.
Agora é tarde a palavra,
desapareceu
a posse das coisas amadas.
O vento que
vergara os teus cabelos
construiu a
nostalgia de regressar à casa.
Nós somos
só pó. Nada mais é texto,
o corpo
existe desamparado
campo de
tributos. Sem nome cato
o
esquecimento. Corpo é texto
cada um
joga o corpo para o lado
que quer.
De repente o corpo é
conduzido
ao mundo mal o vento
rompe o sol
e as asas dos pássaros
encaram o
dia com o mesmo espanto
possível da
infância, o corpo é
sempre só.
Trago dentro do texto
o cansaço.
Sinto a noite corrompida
dizer teu
nome, devagar...
Nenhuma estrela lembra o sexo grunhindo
feito morte
escrava. Não há lugar
para o
corpo. Se alguém vier, há de
tarjar o
texto como sempre.
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