segunda-feira, março 19, 2012


daquilo que não desgruda de mim

trago na ponta da língua
o gosto das frutas
da infância
e ainda impregnado no corpo
o cheiro de incenso
das intermináveis missas
da velha matriz
que não se afasta de mim
por mais longe que eu ande dela

trago desenhados na memória
os rascunhos dos sonhos de menino
que não consegui realizar
e meus passos ainda sabem andar
pelo mapa da velha cidade
que não existe mais

ainda respiram em mim
alguns medos de menino
que carrego no corpo feito tatuagens
gravadas a fogo

a velha maria fumaça
não corre mais pelos trilhos
daqueles verdes anos
mas o seu apito que vem
do outro lado da cidade
ainda alimenta a saudade
de um tempo de sabores
que não desgrudam de mim

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Janelas da Memória”

7 comentários:

Rita Freitas disse...

Muito bonito este texto, com uma nostalgia que no fundo todos temos.
Beijos

Eduardo Tornaghi disse...

Ah memória! De tudo que aconteceu, o que ficou acontecendo

Inspiration disse...

Dentro de cada palavra vai um pouquinho de todos nós...
Teresa Cristina

Marí Lucia Scolaro disse...

Lindo! Tenho acompanhado sua trajetória, meio de longe, é certo, mas cada dia admiro mais o teu trabalho. Inclusive, resolvi tomar aulas de italiano para não perder o contato com minhas raízes, já que o dialeto já é algo raro por estas bandas! Parabéns mesmo! Abraço e sucesso.

sonia albuquerque disse...

Despertou nostalgia em mim ...Acho que todos nós gostaríamos de ter escrito esse belo poema !Lindo !

Márcia Leite disse...

Bonito, Bacca! A memória é o que sobreviverá.

Ricardo Mainieri disse...

Bacca, lembrei destes meus versos:

FAZ SOL EM MIM

Céu de infância
um menino brinca
o tempo para.

Abraço.

Ricardo Mainieri