quarta-feira, abril 13, 2011


Arte: Quinho


TRADUZIR-SE

© FERREIRA GULLAR

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

2 comentários:

MARILENE disse...

SEMPRE VENHO AQUI VER O QUE COLOCOU DE NOVO NESSE SEU BLOG ESPECIAL.

TODOS NÓS SOMOS CONTRADITÓRIOS
E IMPOSSÍVEIS DE UMA TRADUÇÃO
PERFEITA.

Gaivotadourada22 disse...

Fantástico Poema!
Parabéns pelo Blog, vou segui-lo!!!
Abraços!