sábado, março 13, 2010

as pedras da memória – canto 2

Para Jayme Cimenti

te recordas, amigo,
desta rua
que agora corre
com mais pressa
do que corria
nos nossos verdes anos?

quantos sonhos lapidamos
em cada esquina
da velha cidade
que não existe mais?

tanto tempo que se foi,
tantos de nós que não voltaram
e nem por isso
nos deixamos embrutecer!

ainda recordo, amigo,
da vida que corria
por esta rua
e um dia começou, aos poucos,
a nos escapulir

de cada sonho
que amanheceu fora de hora
guardo o gosto de sal;
de cada abraço de despedida,
o amargo de nunca mais

te recordas, amigo,
dos amigos que se perderam
no fim desta rua?

quantos ainda saberão
que os vestígios da nossa infância
continuam gravados
na memória das pedras
da velha cidade
que ainda resistem
aos novos tempos?

têm pressa as ruas
da nova cidade, amigo

correm ao encontro
do tempo que virá,
mas sabem que nas suas pedras
estarão cimentados para sempre
os nossos sonhos de meninos.


© Ademir Antonio Bacca – do livro “O Relógio de Alice”

3 comentários:

SAM disse...

Belíssimo poema, Ademir! Quanta ternura e beleza...Comovente.

Ricardo Mainieri disse...

Esta convocação dos ternos fantasmas da infância, lembra-me Milton Nascimento e seus (e)ternos amigos do Clube da Esquina.
Quantos não sumiram de nosso mapa afetivo, outros desviaram-se em rotas obscuras, de alguns poucos ainda temos notícias.
Beleza é ver que o sentimento não embrutece.

Abraço.

Ricardo Mainieri

Vania Gondim disse...

Lembranças e recordações de uma cidade que se desenvolve junto com a gente.