daquilo que não desgruda de mim
trago na ponta da língua
o gosto das frutas
da infância
e ainda impregnado no corpo
o cheiro de incenso
das intermináveis missas
da velha matriz
que não se afasta de mim
por mais longe que eu ande dela
trago desenhados na memória
os rascunhos dos sonhos de menino
que não consegui realizar
e meus passos ainda sabem andar
pelo mapa da velha cidade
que não existe mais
ainda respiram em mim
alguns medos de menino
que carrego no corpo feito tatuagens
gravadas a fogo
a velha maria fumaça
não corre mais pelos trilhos
daqueles verdes anos
mas o seu apito que vem
do outro lado da cidade
ainda alimenta a saudade
de um tempo de sabores
que não desgrudam de mim
© Ademir Antonio Bacca
do livro “Janelas da Memória”
7 comentários:
Muito bonito este texto, com uma nostalgia que no fundo todos temos.
Beijos
Ah memória! De tudo que aconteceu, o que ficou acontecendo
Dentro de cada palavra vai um pouquinho de todos nós...
Teresa Cristina
Lindo! Tenho acompanhado sua trajetória, meio de longe, é certo, mas cada dia admiro mais o teu trabalho. Inclusive, resolvi tomar aulas de italiano para não perder o contato com minhas raízes, já que o dialeto já é algo raro por estas bandas! Parabéns mesmo! Abraço e sucesso.
Despertou nostalgia em mim ...Acho que todos nós gostaríamos de ter escrito esse belo poema !Lindo !
Bonito, Bacca! A memória é o que sobreviverá.
Bacca, lembrei destes meus versos:
FAZ SOL EM MIM
Céu de infância
um menino brinca
o tempo para.
Abraço.
Ricardo Mainieri
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