Arte: "La gare de Riaz" © Juan Alberto
poeta, escritor, contista, jornalista, radialista, pesquisador e produtor cultural
quinta-feira, dezembro 28, 2006
© LIVIA TUCCI
in “O Avesso do Cristal”
Quando a aurora
é uma promessa silenciosa,
em nossos olhos
intumescidos de noite,
quando as horas são mudas e indolentes
e se arrastam pelos ciclos,
morrendo no levitar dos ritos,
quando um corpo encontra o outro,
efervescido, pouco a pouco,
na transfusão das águas,
é chegado o tempo
de embalar nos braços
o navegar dos barcos
no (pre)amar dos cios.
sábado, dezembro 23, 2006
POEMA DE NATAL
© JULIANA STEFANI
Dorme,
que a fome passa
e se não passa
Grita
que a palavra mata
na dúvida
de quem cala
Dorme.
que a ceia que provas
é a fome da espera
Dorme.
que não és tato.
Não és faro.
És o olhar do menino
na poça d'água
... Um reflexo de Natal
Pode estar também na vidraça
onde arqueias com o dedo: "Felicidade".
Dorme,
que do outro lado, na rua
quem lê
lê ao avesso
e se vai.
do ninho do sonho
ao olho do furacão:
tudo planejado
nos mínimos detalhes
nenhuma palavra que se cale
nenhum gesto que me pare
da linha de partida
até o ponto de chegada:
tudo ousado
feito sonho não sonhado
que a imaginação sustente as asas
que a sensatez não desvie o rumo
nem do ninho da paixão
nem do olho do furacão
© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
eu me perdôo
os males todos
que me fiz
os sonhos que sufoquei
os beijos que evitei
eu me perdôo
os pecados todos
que não cometi
as mulheres que não cobicei
os beijos que não ousei
eu me perdôo
as dores todas
que me causei
as loucuras que não cometi
só não me perdôo
as pontes que não atravessei
© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
domingo, dezembro 17, 2006
quinta-feira, dezembro 14, 2006
para suportar a miséria
nem que seja por um instante."
OSCAR Ribeiro de Almeida de NIEMEYER Soares é considerado um dos nomes mais influentes na arquitetura moderna internacional. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado. Neste dia 15 de dezembro completa 99 anos e continua exercendo sua profissão.
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Foi no dia 8 de dezembro de 1994 que o Brasil perdeu um dos seus maiores talentos. Um dos criadores da bossa nova, juntamente com Vinicius de Morais, morria nos Estados Unidos o compositor Tom Jobim. Carioca da Tijuca, tinha 67 anos e era o músico brasileiro mais conhecido e respeitado no exterior.
Depois de se apresentar em duas ocasiões no Carnegie Hall, em Nova York, Tom Jobim fez seu último show em Jerusalém. Acometido de problemas circulatórios, realizou uma série de exames, ao fim dos quais foi constatado um câncer na bexiga. Jobim foi operado no Mount Sinai Medical Center, em Nova York, no dia 6 de dezembro de 1994. Dois dias depois, teve uma parada respiratória e faleceu.
Arte: Leroy Neiman
A morte de John Lennon
Na noite de 8 de dezembro de 1980, quando voltava para seu apartamento em Nova York, o ex-beatle John Lennon foi baleado cinco vezes por Mark David Chapman, a quem havia dado um autógrafo à tarde. Mesmo tendo sido socorrido por um carro de polícia, morreu ao chegar no Hospital Roosevelt. Chegava ao fim a trajetória de um músico que embalou os sonhos de toda uma geração e começava o mito. Hoje, passados 26 anos daquela fatídica noite, Lennon ainda é um ícone na luta mundial pela paz e suas canções continuam embalando sonhos de todas as gerações.
desatar o nó,
abrir a porta,
todos os nós
todas as portas
botar o pé na estrada
e evitar armadilhas noturnas
com a habilidade daqueles
que conhecem
o fio de arame em que pisam
libertar o medo,
abrir a gaiola,
todos os medos
todas as portas
e nunca mais correr
atrás do arco-íris.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
terça-feira, dezembro 05, 2006
Está ali,
inerte sobre o sofá,
o teu cesto de tricô,
testemunha involuntária
da tua ausência que me dói,
faca afiada
sangrando o peito
no meio da noite insone
está ali,
inerte na madrugada,
o cesto
e inquieto estou eu,
preso irremediavelmente
na teia de fios
do teu inacabado tricô
© Ademir Antonio Bacca
* da antologia “Saciedade dos Poetas Vivos”
Do anarquista russo do século 19, Mikhail Bakunin (1814-1876):
"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar
esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo.
Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
Arte: Petar Pismetrovic
Wolfgang Amadeus Mozart
Nascido no dia 27 de janeiro de 1756, em Salzburgo, hoje na Áustria, Wolfgang Amadeus Mozart é tido por muitos um dos compositores de música clássica mais geniais de todos os tempos e é um dos mais populares entre as audiências modernas.
Morreu no dia 5 de dezembro de 1791, aos 35 anos de idade, na cidade de Viena, na mais absoluta miséria. Foi enterrado em vala comum, sem lápide ou marca que o identificasse.
quinta-feira, novembro 30, 2006
Eu sentia o barulho do mar,
mas não tinha mar ali
O brilho da lua refletia
sombras na parede,
mas não era noite de luar
Eu sentia teus lábios
percorrerem meu corpo
mas sabia que não era a tua boca
que me devorava
Eu sabia
que não tinha mar e nem luar
mas mesmo assim
me deixaria levar pela mão
até saciar minha sede
ou me afogar nos teus braços
porque a paixão
não pode ter meio termo
nem quando não passa
de mera fantasia.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
Em 30 de novembro de 1935, morria aos 47 anos de idade, devido a complicações hepáticas. Com a publicação de sua obra completa, após a morte viria a se transformar no maior poeta da língua portuguesa dos últimos tempos.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.”
FERNANDO PESSOA (1888 – 1935)
segunda-feira, novembro 20, 2006
paixão que leva
do nada a lugar algum
sonho que insiste
em fugir pela janela
antes da hora
aromas da infância
esquecidos na dobra do tempo
segredos
que os olhos da amada
escondem
feridas que se abrem
em noites de ausências
velas abertas
à espera de vento
para se lançar ao mar
desejo que resiste
sobre as cinzas da paixão
o que separa o poeta
do paraíso
é só um passo no escuro.
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
o murmurar
das águas do rio
que corre ao longe
da minha infância
faz-se ouvir
na noite de saudades
do meu pai,
que se precipita em sombras
e silêncio
nada que não o correr
de águas mansas
que trazem lembranças
de trigais dançando ao vento
e da velha avó
resistindo ao peso dos anos
o murmurar
das águas do rio
da minha infância
atravessa a noite silenciosa,
remenda meus sonhos
de menino
e deságua no mar de saudades
que se forma nos meus olhos
© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
quarta-feira, novembro 15, 2006
Arte: CHEMA MADOZ
Rubro Cálice
Ao acariciar suavemente meu corpo
O frio desperta o aroma entre lençóis
Visto-me, confusa, de tua Saudade
E, inquieta, a alma sedenta de sensações
Leva-me sua prisioneira varietal
São passos aflitos, corredores de cristais
Desces adega em minhas escadas...
Um sabor ao brinde de uma paixão:
Bebo do bouquet de teus lábios
Ousando degustar sonhos-cabernet,
Aveludado ainda é teu gosto
E é inebriando-me de lembranças
Que me encorpo aos braços teus
Entre beijos-sauvignon...
© Thyene Preissler Scherer
* Este belíssimo poema foi-me enviado pela amiga Marisa de Moraes, a quem agradeço o prestígio que empresta a este meu cantinho
sábado, novembro 11, 2006
quinta-feira, novembro 09, 2006
amordaçada dentro do peito.
é só para consumo interno.
dissolvo-a em doses cuidadosas
de emoções frustradas
e misturo-as a uma bebida amarga,
para que me seja difícil de tragar.
porque,
só embriagado de dor
é que descubro o quanto me custa
a minha insensatez
© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
segunda-feira, novembro 06, 2006
Concurso Nacional de Poesia
Tema: a cultura do vinho no cenário das civilizações
Regulamento no blog
http://arturgomes.zip.net
e na página:
http://www.almadepoeta.com/fulinaima.htm
As pitangueiras em frente ao SESC
Em frente à unidade do SESC, em homenagem ao Congresso Brasileiro de Poesia, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente plantou, em anos alternados, duas pitangueiras. Para nossa alegria, tanto a maior quanto a menor delas, certamente em homenagem ao maior de todos os congressos já realizados, estão neste novembro que mal iniciou, carregadas de frutos. Peguei minha câmera e fiz um registro para dividir com todos os poetas que já participaram de plantios de pitangueiras em Bento Gonçalves, para que mesmo virtualmente, sintam o sabor das pitangas que embelezam nossos olhos.
sexta-feira, novembro 03, 2006
terça-feira, outubro 31, 2006
As estradas que não percorri,
hoje não me cansam mais.
O arrependimento
de não ter seguido por elas
cansou-me ao longo de intermináveis
noites de insônia.
O que deixei de fazer,
o que não fui,
tudo o que não amei
e o que me fugiu por entre os medos,
foram fardos de frustrações
que carreguei em ombros calejados
pelas estradas que escolhi.
Agora,
na encruzilhada do que sou
com aquilo que queria ser
e com o que eu poderia ter sido,
chamo o garçom e peço mais uma dose.
A vida é assim mesmo,
está escrito em algum lugar
nós nunca vamos,
é ela que nos leva ao seu bel prazer.
As estradas que não percorri
foram aquelas que me cansaram mais.
© Ademir AntonioBacca
do livro “Plano de Vôo”
quinta-feira, outubro 26, 2006
Bento Gonçalves perde sua figura mais folclórica
De todos os personagens folclóricos da história de Bento Gonçalves, nenhum se igualou em fama a Reno Thales de Rodrigues Vinhas, o “Gualicho”. Sua fama de golpista ultrapassou as fronteiras da Capital Brasileira do Vinho e tornou-se lenda. Vender tinta colorida para pintar as antenas quando foi introduzida a televisão colorida no Brasil; vender o direito a uma dupla de argentinos de cobrar pedágio sobre a ponte do Rio das Antas; um loteamento com terrenos de frente pra praia, ou seja, com os terrenos todos dentro d’água e por aí vai compõem a galeria de golpes a ele atribuídos. Quando estava sem dinheiro visitava empresários e sempre conseguia algum. Mas era um romântico, depois a primeira coisa que fazia era enviar bombons e flores para a esposa do empresário que ele acabara de ‘morder’. Personagem dos meus livros de folclore, sempre que vinha a Bento me procurava e conversávamos algumas cervejas. Gostava de tangos e grande parte dos seus 73 anos passou-os em cabarés. Seus preferidos eram “Uno” e “Caminito”. Eu que não gostava de tango, me rendi à beleza de “Caminito”, que divido com vocês:
Caminito
Letra: Gabino Coria Peñolaza
Música: Juan de Dios Filiberto
Caminito que el tiempo ha borrado,
que juntos un día nos viste pasar,
he venido por última vez,
he venido a contarte mi mal.
Caminito que entonces estabas
bordado de trébol y juncos en flor,
una sombra ya pronto serás,
una sombra lo mismo que yo.
Desde que se fue
triste vivo yo,
caminito amigo,
yo también me voy.
Desde que se fue
nunca mas volvió,
seguiré sus pasos,caminito, adiós.
Caminito que todas las tardes
feliz recorrías cantando mi amor,
no le digas si vuelve a pasar
que mi llanto tu suelo regó.
Caminito cubierto de cardos,
la mano del tiempo tu huella borró;
yo a tu lado quisiera caer
y que el tiempo nos mate a los dos.
Gato Félix faz 89 anos
No dia 26 de outubro de 1917, nascia o Gato Félix, personagem ilustre da história do quadrinho mundial, criado pelo desenhista australiano Pat Sullivan, radicado nos Estados Unidos.
Na minha infância fui um leitor voraz de gibis, que ao longo dos tempos acabei substituindo pelos livros. Não tenho dúvidas nenhuma de que o meu gosto pela leitura vem daquelas tardes inesquecíveis de domingos em que trocávamos gibis na entrada do Cinema Popular, na Praça da Matriz de Santo Antônio, aqui em Bento Gonçalves.