quinta-feira, dezembro 28, 2006



Arte: "La gare de Riaz" © Juan Alberto

decisão de campeonato

o tempo
tem nos driblado
em silêncio,
com ponteiros
cada vez
mais rápidos

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
das mortes

ultimamente
a vida
tem me parecido
um porto


de partida

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
Arte: "Breakin free" © Guy David
a noite
tem essa de ser
mais armadilha
que mistério

mais porto de partida
que abraço de chegada

a noite sempre é
um anzol jogado ao acaso
num rio de emoções

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
a nossa
é paixão
mal resolvida

olhos
que se estudam
mãos
que se encontram
e lábios
que dizem não

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
Arte: "Planeta Terra" © Turcios
não
pense
que
a
vida
é
eterna

é
terna
e


© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
CANÇÃO PARA DESPERTAR

© LIVIA TUCCI
in “O Avesso do Cristal”

Quando a aurora
é uma promessa silenciosa,
em nossos olhos
intumescidos de noite,

quando as horas são mudas e indolentes
e se arrastam pelos ciclos,
morrendo no levitar dos ritos,

quando um corpo encontra o outro,
efervescido, pouco a pouco,
na transfusão das águas,

é chegado o tempo
de embalar nos braços
o navegar dos barcos
no (pre)amar dos cios.

sábado, dezembro 23, 2006



POEMA DE NATAL

© JULIANA STEFANI

Dorme,
que a fome passa
e se não passa
Grita
que a palavra mata
na dúvida
de quem cala
Dorme.
que a ceia que provas
é a fome da espera
Dorme.
que não és tato.
Não és faro.
És o olhar do menino
na poça d'água
... Um reflexo de Natal
Pode estar também na vidraça
onde arqueias com o dedo: "Felicidade".
Dorme,
que do outro lado, na rua
quem lê
lê ao avesso
e se vai.
Arte:"When the music is over" © David Maverick
o tempo
que passa
é uma velha chave
que a gente perde
num dia qualquer,

busca
e rebusca
dentro da bolsa

e não encontra
nunca mais


© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
plano de vôo

do ninho do sonho
ao olho do furacão:
tudo planejado
nos mínimos detalhes

nenhuma palavra que se cale
nenhum gesto que me pare

da linha de partida
até o ponto de chegada:
tudo ousado
feito sonho não sonhado

que a imaginação sustente as asas
que a sensatez não desvie o rumo

nem do ninho da paixão
nem do olho do furacão


© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
Arte: "La Abuela" © Angel Boligán
dos sonhos

I

dos sonhos
coloridos
que sonhei,
restou
o amarelo
da tua
lembrança

II

dos sonhos
preto&branco
que me tiraram
o sono,
restou o vazio
da tua
ausência

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”
mea culpa

eu me perdôo
os males todos
que me fiz

os sonhos que sufoquei
os beijos que evitei

eu me perdôo
os pecados todos
que não cometi

as mulheres que não cobicei
os beijos que não ousei

eu me perdôo
as dores todas
que me causei

as loucuras que não cometi

só não me perdôo
as pontes que não atravessei


© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Plano de Vôo”

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Arte: Craig Blair - "The cat that fell in love"
antes
de aprender
o caminho
das estrelas
é preciso
aprender
passo a
passo
o caminho
da emoção

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
Arte: Carlos
“Dever do poeta é cantar com seu povo
e dar ao homem o que é do homem:
sonho e amor,
luz e noite,
razão e desvario.”

PABLO NERUDA
(1904-1973)
na

vida

toda

corda

é

bamba

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
“O Universo embaraça-me,
e não posso imaginar
que esse relógio exista
e não tenha relojoeiro.”

VOLTAIRE
1694 - 1778
a
moldura
do
poema
não
enquadra
o
alcance
do
meu
olhar.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
Arte: Pablo
"A humanidade precisa de sonhos
para suportar a miséria
nem que seja por um instante."

OSCAR Ribeiro de Almeida de NIEMEYER Soares é considerado um dos nomes mais influentes na arquitetura moderna internacional. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado. Neste dia 15 de dezembro completa 99 anos e continua exercendo sua profissão.
da certeza

não adianta
espernear:
toda paixão
é prenúncio
de temporal.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”

domingo, dezembro 10, 2006


“Sempre que desejo
contar alguma coisa,
não faço nada;
mas quando não desejo
contar nada,
faço poesia.”

MANOEL DE BARROS

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Arte: Baptistão
Doze anos sem Tom Jobim

Foi no dia 8 de dezembro de 1994 que o Brasil perdeu um dos seus maiores talentos. Um dos criadores da bossa nova, juntamente com Vinicius de Morais, morria nos Estados Unidos o compositor Tom Jobim. Carioca da Tijuca, tinha 67 anos e era o músico brasileiro mais conhecido e respeitado no exterior.
Depois de se apresentar em duas ocasiões no Carnegie Hall, em Nova York, Tom Jobim fez seu último show em Jerusalém. Acometido de problemas circulatórios, realizou uma série de exames, ao fim dos quais foi constatado um câncer na bexiga. Jobim foi operado no Mount Sinai Medical Center, em Nova York, no dia 6 de dezembro de 1994. Dois dias depois, teve uma parada respiratória e faleceu.
as palavras

palavras
não devem ser amadas
e nem respeitadas

ao contrário das mulheres
palavras devem ser usadas
e violentadas

devemos tirar delas
tudo o que elas podem dizer.

palavras,
de amor ou de ódio,
não merecem respeito

existem para ser exploradas.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “O relógio de Alice”


Arte: Leroy Neiman

A morte de John Lennon

Na noite de 8 de dezembro de 1980, quando voltava para seu apartamento em Nova York, o ex-beatle John Lennon foi baleado cinco vezes por Mark David Chapman, a quem havia dado um autógrafo à tarde. Mesmo tendo sido socorrido por um carro de polícia, morreu ao chegar no Hospital Roosevelt. Chegava ao fim a trajetória de um músico que embalou os sonhos de toda uma geração e começava o mito. Hoje, passados 26 anos daquela fatídica noite, Lennon ainda é um ícone na luta mundial pela paz e suas canções continuam embalando sonhos de todas as gerações.

conter
as horas
e apressar
o medo.

nem o dia
passa,
nem o tiro
te mata.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
Arte: Fraga
A sétima Sinfonia de Beethoven.

Há exatos 193 anos, mais precisamente no dia 8 de dezembro de 1813, o compositor Ludwing von Beethoven estreava em Viena, a sua sétima sinfonia, que viria ao longo dos anos se tornar um marco da música clássica.
pra gente ser feliz

desatar o nó,
abrir a porta,

todos os nós
todas as portas

botar o pé na estrada
e evitar armadilhas noturnas
com a habilidade daqueles
que conhecem
o fio de arame em que pisam

libertar o medo,
abrir a gaiola,

todos os medos
todas as portas

e nunca mais correr
atrás do arco-íris.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”

terça-feira, dezembro 05, 2006

Arte: Angel Planells - "Objetos en la pared"


"O que mais preocupa
não é nem o grito dos violentos,
dos corruptos, dos desonestos,
dos sem caráter,
dos sem ética.
O que mais preocupa
é o silêncio dos bons."

Martin Luther King
1929 - 1968

Teia

Está ali,
inerte sobre o sofá,
o teu cesto de tricô,
testemunha involuntária
da tua ausência que me dói,

faca afiada
sangrando o peito
no meio da noite insone

está ali,
inerte na madrugada,
o cesto
e inquieto estou eu,
preso irremediavelmente
na teia de fios
do teu inacabado tricô

© Ademir Antonio Bacca
* da antologia “Saciedade dos Poetas Vivos”


Do anarquista russo do século 19, Mikhail Bakunin (1814-1876):

"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar
esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos
e suas pretensões de governá-lo.
Quem duvida disso não conhece a natureza humana."



Arte: Petar Pismetrovic

Wolfgang Amadeus Mozart

Nascido no dia 27 de janeiro de 1756, em Salzburgo, hoje na Áustria, Wolfgang Amadeus Mozart é tido por muitos um dos compositores de música clássica mais geniais de todos os tempos e é um dos mais populares entre as audiências modernas.
Morreu no dia 5 de dezembro de 1791, aos 35 anos de idade, na cidade de Viena, na mais absoluta miséria. Foi enterrado em vala comum, sem lápide ou marca que o identificasse.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Arte: Van Oostzanen- bulls eye
Entrega

Eu sentia o barulho do mar,
mas não tinha mar ali

O brilho da lua refletia
sombras na parede,
mas não era noite de luar

Eu sentia teus lábios
percorrerem meu corpo
mas sabia que não era a tua boca
que me devorava

Eu sabia
que não tinha mar e nem luar
mas mesmo assim
me deixaria levar pela mão
até saciar minha sede
ou me afogar nos teus braços
porque a paixão
não pode ter meio termo
nem quando não passa
de mera fantasia.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
Arte: David Levine
"A vida não é regida pela vontade ou pela determinação. A vida é um conjunto de nervos, fibras e células que se formam lentamente, onde se esconde o pensamento e a paixão sonha os seus sonhos."

OSCAR WILDE
16.10.1854 / 30.11.1900
feridas abertas

nem todas as lembranças sangram
nem todas as lembranças me tiram o sono

mas todas as lembranças doem.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

FERNANDO PESSOA

Nascido em 13 de junho de 1888, Fernando Pessoa publicou seu primeiro poema em 1913 (Impressões do Crepúsculo) e em 1914, surgiram os seus três principais heterônimos: Alberto Caieiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
Em 30 de novembro de 1935, morria aos 47 anos de idade, devido a complicações hepáticas. Com a publicação de sua obra completa, após a morte viria a se transformar no maior poeta da língua portuguesa dos últimos tempos.
“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.”

FERNANDO PESSOA (1888 – 1935)
haicai

tamborins batucando
na janela.
chuva de pedra

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
armadilha

no
meio
do
verso
a
palavra
desavisada
rima
amor
com
desamor

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”


gran prix

todo bom poema
tem um poeta desesperado
em seu encalço

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

Arte: Siegfried Zademack
Inquietação

no vértice
das tuas coxas
o desassossego permanente
das minhas fantasias

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
a noite
que outrora abria
todos os meus horizontes,
agora se faz quieta
e me prende nos limites
da minha insensatez.

grade emocional intransponível
que me aprisiona
sem uma amarra sequer.

exílio que não acaba
com o primeiro cantar do galo.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

segunda-feira, novembro 20, 2006

Arte: Siudmak Wojtek
a um passo do paraíso

paixão que leva
do nada a lugar algum

sonho que insiste
em fugir pela janela
antes da hora

aromas da infância
esquecidos na dobra do tempo

segredos
que os olhos da amada
escondem

feridas que se abrem
em noites de ausências

velas abertas
à espera de vento
para se lançar ao mar

desejo que resiste
sobre as cinzas da paixão

o que separa o poeta
do paraíso
é só um passo no escuro.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”

Arte: Mario Alberto

Na madrugada de sexta-feira, morreu um dos monstros sagrados do futebol de todos os tempos: Puskas. Húngaro de nascimento, depois de brilhar na seleção de seu país, fugiu da invasão soviética e exilou-se na Espanha, onde tornou-se um dos maiores ídolos do Real Madri. No domingo, jogadores perfilados no meio do campo, uma violoncelista executava sua música durante o minuto de silêncio em honra ao craque. Nas arquibancadas, a platéia em silêncio respeitoso. No Brasil, o minuto de silêncio sempre é o mais barulhento de toda a partida. Daí dá para se ter uma noção do nível de certos torcedores que vão aos estádios para tudo, menos para torcer pelos seus clubes civilizadamente
das águas que movem o moinho da saudade

o murmurar
das águas do rio
que corre ao longe
da minha infância
faz-se ouvir
na noite de saudades
do meu pai,
que se precipita em sombras
e silêncio

nada que não o correr
de águas mansas
que trazem lembranças
de trigais dançando ao vento
e da velha avó
resistindo ao peso dos anos

o murmurar
das águas do rio
da minha infância
atravessa a noite silenciosa,
remenda meus sonhos
de menino
e deságua no mar de saudades
que se forma nos meus olhos

© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”


Arte: Self Awarelg © Jody Harmon

da minha poesia

sonhos
mal dormidos
que carrego
amarrotados
no bolso
do paletó

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
cristal

sonhos
mal sonhados
também se espatifam
ao encontro do chão.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

Fractal 0011 © ademir bacca - Programa utilizado: Ultrafractal
quando
a vida
fica chata
tiro
um sonho
doido
da gaveta
e saio
pela noite
em busca
de poesia

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
da felicidade

os
teus
olhos
quebrando
o
silêncio
da
tua
boca

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”

quarta-feira, novembro 15, 2006

Arte: Jacek Yerka

Os meus silêncios
muitas vezes valem ouro
e custam caro

horas de sono perdidas
pelas palavras não ditas

o que a boca não diz
nem sempre teus olhos
compreendem.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
muita vida
já me fugiu
por entre os dedos

muito sonho
bateu em minha porta
entrou e ficou
enquanto a vida
seguiu seu rumo

muito tempo
já gastei
correndo atrás
da emoção
de dar sentido
à vida.

© Ademir Antonio Bacca
Arte: Fraga

“para amar,
basta estar
distraído”


© GUIMARÃES ROSA
1908 - 1967
das faxinas

ao primeiro
cantar do galo,
recolho os cacos
das minhas emoções
mal dormidas.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
das perseguições

dos meus sonhos
mal dormidos
você é quem volta
com mais freqüência.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”


Arte: CHEMA MADOZ

Rubro Cálice

Ao acariciar suavemente meu corpo
O frio desperta o aroma entre lençóis
Visto-me, confusa, de tua Saudade
E, inquieta, a alma sedenta de sensações
Leva-me sua prisioneira varietal
São passos aflitos, corredores de cristais
Desces adega em minhas escadas...
Um sabor ao brinde de uma paixão:
Bebo do bouquet de teus lábios
Ousando degustar sonhos-cabernet,
Aveludado ainda é teu gosto
E é inebriando-me de lembranças
Que me encorpo aos braços teus
Entre beijos-sauvignon...

© Thyene Preissler Scherer

* Este belíssimo poema foi-me enviado pela amiga Marisa de Moraes, a quem agradeço o prestígio que empresta a este meu cantinho

na solidão da tua ausência
descubro que a minha aquarela
é pouco para te pintar
do jeito que eu te vejo

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

sábado, novembro 11, 2006

Arte: "Unauthorized Obsession" © George Grie
isca

a minha
poesia
é anzol
jogado ao acaso
no rio
dos teus olhos

© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
Arte: Fraga
“É ainda possível chorar
sobre as páginas de um livro,
mas não se pode derramar lágrimas
sobre um disco rígido.”

JOSE SARAMAGO
no fim das contas
a gente se vai do bar
assim como correm os rios:
sem pressa nenhuma
porque sabem que um dia
dão de cara com o mar.

nos vamos sem pressa alguma

o relógio às vezes atrasa,
mas o galo sempre acorda
as manhãs.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
replay

o passado
de vez em quando
bate em minha porta
vestido de amanhã

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
é longa
a noite de poucos versos

os acordes do velho violão
pedem trégua aos corações cansados
mas o silêncio ao redor
não cala o grito
que vem de dentro do corpo

A trégua interrompe o sono
mas nunca quebra a magia do sonho.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”
Bósnia

plantam-se corpos
em valas comuns
como se homens
fossem sementes
de insensatez.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”

quinta-feira, novembro 09, 2006



Arte: Siegfried Zademack

não há pressa.

o coração dispara
mas o verso espera.


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

eu guardo a minha dor
amordaçada dentro do peito.

é só para consumo interno.

dissolvo-a em doses cuidadosas
de emoções frustradas
e misturo-as a uma bebida amarga,
para que me seja difícil de tragar.

porque,
só embriagado de dor
é que descubro o quanto me custa
a minha insensatez

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”


Arte: "Blue Afternoon" by Kolja Tatic

“O poema é a sede que o desejo de uma sede maior sacia.
Num poema, o eco é tão importante quanto o silêncio.”

EDMOND JABÈS

armistício

nenhum gesto
que não acariciar
teu rosto

há em mim
intenções de sossego

nenhum movimento
que não desnudar
teu corpo

há em mim
intenções de paz
apesar da palavra
engatilhada

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
Arte: Sabát


“Em meus textos, quero chocar o leitor,
não deixar que ele repouse na bengala dos lugares-comuns,
das expressões acostumadas e domesticadas.
Quero obrigá-lo a sentir uma novidade nas palavras.”

JORGE LUIS BORGES
1899-1986
das vantagens

percorrer
os caminhos
da emoção
não gasta
a sola do sapato

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
nós

os
laços
que
nos
unem
são
os
mesmos
que
nos
sufocam
entre
nossos
lençóis.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
Arte: Morchoisne

“Pensamos em demasia
e sentimos bem pouco.mais do que de máquinas,
precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência
e tudo será perdido.”

Charles Chaplin
(1889 – 1977)

dos desatinos

a minha
é emoção desgovernada
que atropela a razão
em plena madrugada de criação.

o meu
é poema desastrado
que ganha as ruas,
se acovarda diante de ti
e não diz nada.

© Ademir Antonio Bacca

segunda-feira, novembro 06, 2006



Arte: Jacek Yerka

É sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço

Ana Cristina César
1952 - 1983

das travessias

algumas pontes
levam minhas fantasias
ao outro lado do prazer.

outras,
só atravessam rios.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
Arte: Henrique Rodrigues Pinto
“O poema é uma bola de cristal.
Se apenas enxergares nele o seu nariz,
não culpes o mágico.”

MARIO QUINTANA
1906 - 1994

fonte de luz

a minha loucura
vem da nascente
dos teus olhos


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”


Concurso Nacional de Poesia

Tema: a cultura do vinho no cenário das civilizações
Regulamento no blog

http://arturgomes.zip.net

e na página:

http://www.almadepoeta.com/fulinaima.htm

invento a paixão
do meu jeito

irresponsável
e insensata
com todos os riscos

invento a minha paixão
com todas as loucuras
que passam pela cabeça
do mais tolo dos apaixonados
e me entrego a ela
de corpo e alma

só assim vale a pena
te amar


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”


As pitangueiras em frente ao SESC

Em frente à unidade do SESC, em homenagem ao Congresso Brasileiro de Poesia, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente plantou, em anos alternados, duas pitangueiras. Para nossa alegria, tanto a maior quanto a menor delas, certamente em homenagem ao maior de todos os congressos já realizados, estão neste novembro que mal iniciou, carregadas de frutos. Peguei minha câmera e fiz um registro para dividir com todos os poetas que já participaram de plantios de pitangueiras em Bento Gonçalves, para que mesmo virtualmente, sintam o sabor das pitangas que embelezam nossos olhos.

das águas

no cristalino
das águas que descem
os morros
eu faço sumir os vestígios
do teu corpo

tempo que se vai
na pressa do rio

lembrança que não dói mais


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
do aconchego

descanso
a insensatez
dos meus passos
na calma doçura
dos teus braços

sossego
a loucura
dos meus atos
na doce preguiça
dos teus gestos.


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

sexta-feira, novembro 03, 2006

Arte: Tristan Schane
tempo de solidão

tempo
que não passa
novelo
que não se desembaraça
vela
que queima devagar

que não desata
lembrança
que não se perde na fumaça.

noite
que se arrasta.


© Ademir Antonio Bacca
do ponto final

eu
e tu
diga lá
o que fazer
de nós dois?

onde
o porto
para ancorar
estes corpos
cansados
de se navegarem?

eu
e tu
onde foi que perdemos
o mapa do sonho
que trazíamos
no coração?


© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”

Arte: "Close this window" © Olbinski
na corda bamba

no tênue fio
que me prende
a ti,
faço malabarismos mil
para não te perder
de vista


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
da paixão

materializo
todas as minhas
fantasias
na ternura
indisfarçada
do teu olhar


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”
sina

eu tenho
um verso
atravessado
na garganta
que me rasga
o peito
toda vez
que me ponho
a sonhar.


© Ademir Antonio Bacca
do livro “Pandorgas ao Vento”

terça-feira, outubro 31, 2006

Ultimate trap lodge © George Grie
altos e baixos

ao inferno
desci tantas vezes,
caminhos a que me leva
a indiferença do teu andar

ao paraíso
poucas vezes me aventurei

a última,
quando me deixei levar
pelo brilho do teu olhar.

© Ademir AntonioBacca
do livro “Plano de Vôo”
teus olhos nos meus

cursos de rios
que se encontram
caudalosos

paixão que arrasta
tudo o que encontra
pela frente.

© Ademir AntonioBacca
do livro “Plano de Vôo”
Take me to the city © Fátima Azinova
de estradas & estradas

As estradas que não percorri,
hoje não me cansam mais.

O arrependimento
de não ter seguido por elas
cansou-me ao longo de intermináveis
noites de insônia.

O que deixei de fazer,
o que não fui,
tudo o que não amei
e o que me fugiu por entre os medos,
foram fardos de frustrações
que carreguei em ombros calejados
pelas estradas que escolhi.

Agora,
na encruzilhada do que sou
com aquilo que queria ser
e com o que eu poderia ter sido,
chamo o garçom e peço mais uma dose.

A vida é assim mesmo,
está escrito em algum lugar
nós nunca vamos,
é ela que nos leva ao seu bel prazer.

As estradas que não percorri
foram aquelas que me cansaram mais.

© Ademir AntonioBacca
do livro “Plano de Vôo”

quinta-feira, outubro 26, 2006

Arte: Paulo Rocha

Bento Gonçalves perde sua figura mais folclórica

De todos os personagens folclóricos da história de Bento Gonçalves, nenhum se igualou em fama a Reno Thales de Rodrigues Vinhas, o “Gualicho”. Sua fama de golpista ultrapassou as fronteiras da Capital Brasileira do Vinho e tornou-se lenda. Vender tinta colorida para pintar as antenas quando foi introduzida a televisão colorida no Brasil; vender o direito a uma dupla de argentinos de cobrar pedágio sobre a ponte do Rio das Antas; um loteamento com terrenos de frente pra praia, ou seja, com os terrenos todos dentro d’água e por aí vai compõem a galeria de golpes a ele atribuídos. Quando estava sem dinheiro visitava empresários e sempre conseguia algum. Mas era um romântico, depois a primeira coisa que fazia era enviar bombons e flores para a esposa do empresário que ele acabara de ‘morder’. Personagem dos meus livros de folclore, sempre que vinha a Bento me procurava e conversávamos algumas cervejas. Gostava de tangos e grande parte dos seus 73 anos passou-os em cabarés. Seus preferidos eram “Uno” e “Caminito”. Eu que não gostava de tango, me rendi à beleza de “Caminito”, que divido com vocês:

Caminito

Letra: Gabino Coria Peñolaza
Música: Juan de Dios Filiberto

Caminito que el tiempo ha borrado,
que juntos un día nos viste pasar,
he venido por última vez,
he venido a contarte mi mal.
Caminito que entonces estabas
bordado de trébol y juncos en flor,
una sombra ya pronto serás,
una sombra lo mismo que yo.

Desde que se fue
triste vivo yo,
caminito amigo,
yo también me voy.
Desde que se fue
nunca mas volvió,
seguiré sus pasos,caminito, adiós.

Caminito que todas las tardes
feliz recorrías cantando mi amor,
no le digas si vuelve a pasar
que mi llanto tu suelo regó.
Caminito cubierto de cardos,
la mano del tiempo tu huella borró;
yo a tu lado quisiera caer
y que el tiempo nos mate a los dos.

coisas do mar

o ir e vir fascinante das águas,
eterna magia do mar bravio
em teus olhos

paixões perdidas na arrebentação.

essa coisa intrigante
do mar estar longe e tão perto
dos meus olhos,
me levando em suas ondas
e nunca te trazendo para mim...

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”


30 anos sem Di Cavalcanti

No dia 26 de outubro de1976, morria no Rio de Janeiro, aos 79 anos, Emiliano Di Cavalcanti, um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos. Acima, “Samba”, óleo sobre tela, um dos seus quadros mais famosos, pintado no ano de 1925.

em silêncio
contemplo teu corpo inerte
ao alcance das minhas mãos

nenhum som perdido
na madrugada

intrusa,
a lua espreita pelo vão da janela
o movimento dos meus dedos.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Plano de Vôo”

Gato Félix faz 89 anos

No dia 26 de outubro de 1917, nascia o Gato Félix, personagem ilustre da história do quadrinho mundial, criado pelo desenhista australiano Pat Sullivan, radicado nos Estados Unidos.
Na minha infância fui um leitor voraz de gibis, que ao longo dos tempos acabei substituindo pelos livros. Não tenho dúvidas nenhuma de que o meu gosto pela leitura vem daquelas tardes inesquecíveis de domingos em que trocávamos gibis na entrada do Cinema Popular, na Praça da Matriz de Santo Antônio, aqui em Bento Gonçalves.