VIDA E MORTE
© SÉRGIO NAPP
1939 – 2015
Então
isto é a vida: esta faixa rajada de vermelho que encerra o dia? Este resto de
arco-íris depois da chuva mansa? A aragem embalando as folhas que se desprendem
das árvores nas calmas manhãs de sol? E o homem a que responde a tudo isto?
Deixa-se em contemplação? Mede-se o seu espanto pela alegria ou pelo medo? O
que é o medo? Algo que não se pode medir? Um ponto escuro em que os olhos
se fecham para que nada se veja? A morte?
Ah, a
morte, em que momento ela se confronta com a vida? Em que momento elas disputam
a primazia sobre o corpo à sua frente? Serão inimigas? A vida é mais
harmoniosa, embora, sem dúvida, a morte seja a mais forte. O homem se assusta
com a morte e tenta, de todas as formas, lhe escapar. A morte o cerca de forma
inexorável. A morte possui toda a paciência do mundo. Com a paciência, que só
ela possui, o espreita, enquanto apara as unhas e corrige as cutículas.
Pesquisas
demonstram que se escrevermos sobre nossas aflições e nossa possibilidade de
morrer, a vida tem uma chance. Pequena, claro, mas enfim.
E sobre
o que deveremos escrever? Experiências, dores, medos, ambiguidades? Depende de
cada um. De como sentimos a proximidade desta senhora. Você tem um câncer?
Escreva. Tem uma cardiopatia grave? Escreva. Dizem que o fato de escrever sobre
ou não, diminui as possibilidades. Em tese, ela não me assusta, pois o caminho
é inexorável. Entretanto, as circunstâncias nos fazem refletir. A vida sempre
estará por perto nos dando uma esperança. A morte, não. Não há esperanças na
morte.
Neste
momento ela é meu tema (talvez porque eu a adivinhe?), enquanto amanhã, quem
sabe, considere este tema uma grande bobagem. Quem sabe, seja uma radiosa manhã
de sol e eu saia para um passeio de bicicleta. Quem sabe, logo adiante, ela se
ponha à minha frente?
Estamos
sempre entre uma e outra, queiramos ou não.
Morrer
de repente é o prazer do homem, viver é seu objetivo.
A morte
anda, a morte é.
E a
vida?
O que
cada uma nos reserva não sabemos e, se soubéssemos, o sentido entre elas
perderia importância.
Um comentário:
Tempo de poetar: XXIV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos. Edital disponível em http://zip.net/btrpBf
www.academialeopoldinense.net
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