NATAL
© WALMIR AYALA
Natal no coração de ferro
dos tempos obscuros –
os atos, os fatos, os dinossauros, os seqüestros,
dançam na voragem como sombras chinesas.
Há um teatro frenético ocupando a noite e o sonho.
Já não há brinquedos para pedir – as metralhadoras
cortam os homens em dois, como caules.
Antes de qualquer flor
o sangue derramado canta.
E o Natal vem por todos os lados do mundo.
O Natal com seu menino.
Com seus bois e burros,
com seus galos e estrelas.
O muro do Natal envolvendo o planeta
como fronteira aérea,
prendendo por um instante o grande grito de exílio,
unindo as vozes de homens e animais em direção à lua
como um gemido de amor que se completa.
Natal que a neve dos cartões postais esfria
E que se antecipa à aflitiva degolação dos inocentes.
Natal que é hálito das alimárias sobre um Deus perfeito
em seu momento humano e indefeso.
Por isso mesmo Natal como a verdade:
imediata fonte de luz.
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