quinta-feira, junho 25, 2015


O RIO GRANDE PERDE UM DOS SEUS MAIORES TALENTOS

Morreu em Porto Alegre, na noite desta quarta-feira, o tradicionalista, pesquisador, compositor e radialista ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES, ou apenas Nico, como ele preferia ser chamado, autor, entre outras, de "Canto Alegretense", uma das músicas mais gravadas no sul do país.
Nascido na localidade de Inhanduí, no interior de Alegrete, em 1934, tornou-se uma das figuras de maior referência do tradicionalismo gaúcho e era reconhecido como uma das maiores autoridades em folclore do Rio Grande do Sul.
Tive o prazer de desfrutar da sua amizade e de conviver com ele em diversas oportunidades especiais. Numa delas, involuntariamente fui o causador da sua reaproximação com o poeta Mario Quintana, seu conterrâneo, com quem ele estava rompido havia muitos anos. O motivo da desavença havia sido uma declaração infeliz do poeta de que aqueles que nasciam em Alegrete ou "eram fazendeiros ou eram bois". Nico ficou injuriado e dizia as quatro ventos que era do Alegrete e não era nem fazendeiro e nem boi. Indignado, havia riscado o nome de Quintana da sua lista de amigos.
Em 1988, estávamos prestes a inaugurar a Biblioteca de Serafina Corrêa e havíamos decidido batizá-la com o nome do grande poeta. Agendei um encontro com ele e - sem imaginar que eles estivessem rompidos - convidei o Nico para nos acompanhar. 

A princípio ele recusou:
- Tô de mal com aquele velho!
Meia hora depois me ligou dizendo que iria:
- Ele já está passado nos anos e não quero que ele morra sem fazer as pazes com ele.
E então fomos: eu, ele e a sua namorada na época, Guiga, com quem ele viria a casar poucos meses depois, mais Jonalda Fornari, então Secretária de Educação de Serafina Correa e o poeta Rossyr Berny.
Foi bonito ver o abraço de reconciliação que Nico e Quintana trocaram naquela manhã fria de inverno em Porto Alegre, numa manhã que me foge a data, mas com certeza o mês era junho de 1988. Abaixo o flagrante do momento em que Mario Quintana lia o decreto que dava o seu nome à Biblioteca Municipal da cidade onde nasci.