quarta-feira, março 28, 2012


Millôr Fernandes
1923 – 2012

O Brasil perdeu, na noite de terça-feira (27), uma das suas maiores expressões literárias de todos os tempos. Aos 88 anos morreu, na cidade do Rio de Janeiro, o desenhista, jornalista, dramaturgo e escritor Millôr Fernandes.
Em 1938, aos 14 anos, Millôr entrou no Liceu de Artes e Ofícios e começou a trabalhar profissionalmente na revista "O Cruzeiro". Naquele momento, se tornaria um dos principais nomes do jornalismo e das artes no Brasil. Foi também um dos criadores do jornal "PifPaf". Apesar de ter durado apenas oito edições, considera-se que a publicação deu início à imprensa alternativa no Brasil. Ele foi ainda um dos colaboradores de "O Pasquim", reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar.
Com diversas aptidões para o desenho, a prosa, a poesia, o teatro, a literatura e a tradução (de Shakespeare, Molière, Sófocles, Bernard Shaw), também escreveu peças célebres como "Liberdade, Liberdade" (1965), em parceria com Flávio Rangel, e que se tornou uma das obras pioneiras do teatro de resistência ao regime militar.
Publicou mais de 50 livros a partir de 1946, boa parte compilando textos humorísticos e desenhos feitos para a imprensa e escreveu mais de dez roteiros para o cinema.
Pioneiro na internet entre as personalidades brasileiras, seu site foi inaugurado em 2.000 e segue no ar até hoje.

Arte: Fraga

“Millôr Fernandes era uma das grandes cabeças do país. Ele foi um grande intelectual, livre pensador, é um grande exemplo para o Brasil. Ele soube pensar o Brasil, tinha posições sempre claras, sempre corajosas. Eu acho que, pelo fato de ser rotulado como humorista, talvez muita gente não tenha prestado atenção a esse outro lado dele". 

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

sábado, março 24, 2012

CHICO ANYSIO
1931 – 2012 

Arte: William

O humor brasileiro deve, obrigatoriamente, ser dividido em AC / DC, ou seja: antes e depois de Chico Anysio. Nenhum humorista no mundo foi tantos num só. Ninguém popularizou e consagrou no imaginário de tantas gerações um número tão grande de personagens. E todos foram grandes, marcantes. Com a sua morte perde o Brasil um dos seus maiores talentos e também um dos seus maiores críticos, pois por trás de cada personagem sempre havia uma mensagem apontando o dedo para alguma coisa. Boa ou ruim. Chico Anysio que foi tantos num só, conseguiu ser genial em cada um dos personagens que interpretou. O meu personagem preferido era o Professor Raimundo.

segunda-feira, março 19, 2012


Arte: “Il pensatore” © Giorgio de Chirico (1888 – 1978)

daquilo que não desgruda de mim

trago na ponta da língua
o gosto das frutas
da infância
e ainda impregnado no corpo
o cheiro de incenso
das intermináveis missas
da velha matriz
que não se afasta de mim
por mais longe que eu ande dela

trago desenhados na memória
os rascunhos dos sonhos de menino
que não consegui realizar
e meus passos ainda sabem andar
pelo mapa da velha cidade
que não existe mais

ainda respiram em mim
alguns medos de menino
que carrego no corpo feito tatuagens
gravadas a fogo

a velha maria fumaça
não corre mais pelos trilhos
daqueles verdes anos
mas o seu apito que vem
do outro lado da cidade
ainda alimenta a saudade
de um tempo de sabores
que não desgrudam de mim

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Janelas da Memória”