A morte de Moacyr Scliar ainda repercutirá durante muitos dias em todos os cantos do país, especialmente aqui no Rio Grande do Sul, fato pouco comum por tratar-se de um escritor e não uma celebridade da música, do esporte ou da televisão.
A verdade é que em vida Scliar arrebanhou um exército de fãs não apenas pelo seu talento brilhante, mas também pela forma com que sempre tratou e cativou as pessoas. Não há um organizador de feira de livro no estado, nem um professor de literatura ou organizador de evento literário que não esteja lamentando sua morte, visto ele em vida nunca dizer não a um chamado para falar sobre sua obra.
A mim, em particular, sua morte deixa um vazio difícil de ser preenchido, tamanho foi o nosso convívio. Tive o privilégio de conquistar sua amizade pouco depois de ter publicado meu primeiro livro. A partir de então, além de incentivar meus escritos passou a ser colaborar assíduo dos dois jornais que eu editava, o LACONICUS e o GARATUJA, sem nunca ter cobrado um centavo pela cedência dos artigos.
Das dezoito edições já realizadas do Congresso Brasileiro de Poesia, ele participou de pelo menos oito. Não havia cerimônias entre nós, era tudo uma questão de espaço na agenda e não de cachê. Talvez neste quesito tenha sido o autor que mais prestigiou o programa “Autor Presente” criado pelo Instituto Estadual do Livro.
Em 1988, brindou-me com o prefácio do meu livro “Página de Jornal”, cujas palavras finais me emocionam até hoje: “A indignação de Ademir Antonio Bacca é a indignação de grande parte da juventude brasileira, diante da notícia que a gente não queria ser”.
Em aberto ficou apenas a sua ida que estávamos programando para minha cidade natal, Serafina Corrêa, “qualquer dia de qualquer mês depois da metade deste ano”, assim que sua agenda permitisse.
Se a literatura brasileira perdeu um ícone com a morte de Moacyr Scliar, todos aqueles que vivem e respiram cultura no estado perderam um referencial de lealdade, amizade e disponibilidade.