quinta-feira, março 20, 2008

Arte: Olbinski

Arte: El Jota Leal
“Como posso querer
que meus amigos entendam
as coisas loucas que se passam
pela minha cabeça,
se eu mesmo, não entendo.”

SALVADOR DALI
1904 - 1989
da condição do poema

o poema
não pode ser
só um poema
tem que ser mais,

estrada a seguir,
mapa para se situar

o poema
tem que ser mais
que só um poema

tem que ser a faca que sangra,
tem que ser o álibi que salva

o poema
não pode ser
só palavra que consola
no meio da noite

tem que ser porta aberta
a todos os sonhos
tem que ser porto aberto
para todos os barcos

o poema
na madrugada
tem que ser mais
que caminho para o amanhecer

tem que ser corpo
para todos os abraços,
trama e surpresa

o poema
não pode ser
só um poema
no fim da estrada,
tem que ser mais,

tem que ser ponte
entre a paixão e a palavra,
tem que ousar e ir em frente

todo poema
tem que soltar as amarras
e voar

todo poema
tem que destruir muros
e remendar esperanças
tem que ter a força dos insensíveis
e a delicadeza daqueles que apostam
em novas manhãs.

o poema
não pode ser
só um poema
tem que ser mais,

tem que ter a precisão
de bala perdida
e acertar em cheio
o peito de quem o lê

senão, não é

© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
... e por falar na Páscoa... (2)Arte: Angel Boligán


Arte: William
“E ninguém é eu,
e ninguém é você.
Esta é a solidão”.

CLARICE LISPECTOR
1920 - 1977
conversa de pescador

por mais emoções
que eu pesque
da imaginação,
sempre fico
com a impressão
que dava para tirar
outras melhores
de dentro do rio
que brilha no teu olhar

© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”
Arte: "Pés" © Misha Gordin

ÍNTIMA FRAÇÃO

© ANDREA MOTTA

surdos meus pés
gritam a distância
disfarçada

curvos
adjetivados
pela hora tardia

das estranhas noites
contam espinhos
obscenos

turvos
semeiam
e colhem a palavra

(Para Rubens da Cunha)
... e por falar na Páscoa... (1) Arte © Angel Boligán

mel
e veneno
nos teus lábios
se confundem

geralmente
procuro o doce
mas confesso
que algumas vezes
a tentação do veneno
me apetece.

© Ademir Antonio Bacca

sexta-feira, março 07, 2008

Arte: Im bikini © Charito Gil

gritos por dentro das palavras

que gritos
esconde por dentro
a palavra quando cala?

que emoções
prende dentro de si
o coração quando para?

que medos
traz escondidos em si
o corpo quando fala?

que palavras
esconde a língua
quando não fala?

que mistérios
esconde a noite
quando ela absorve o dia?

que segredos
escondem as janelas
quando se fecham, caladas,
ante nossos passos?

tantos gritos
tantas emoções
tantos medos
tantos mistérios
tantos segredos
tantas palavras
aprisionados
dentro de cada corpo
que cala

© Ademir Antonio Bacca
do livro”Gritos por dentro das palavras”

do alcance da imaginação

o mundo
das minhas fantasias
é muito grande
para ser visto
pelo buraco
da tua fechadura

© Ademir Antonio Bacca
Poema Visual "Triunfo da Poesia" © Fernando Aguiar

Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras têm alma
E que os rios têm êxtases ao luar.

Mas as flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.

ALBERTO CAEIRO
pedido

não ponha
palavras
nos meus olhos

deixe que eles
te vejam
do jeito que
eu te imagino

© Ademir Antonio Bacca
do livro “Grito por dentro das palavras”
Arte: David Levine
“A vida é uma pedra de amolar:
desgasta-nos ou afia-nos,
conforme o metal
de que somos feitos”

GEORGE BERNARD SHAW
todo amor
quando acaba
deixa um fantasma
a abrir e fechar
as portas da casa
dentro da noite
vadia.

© Ademir Antonio Bacca